TRÊS DÉCIMAS AO ESPANTO
TRÊS DÉCIMAS AO ESPANTO
*
Deste espanto de pensar,
deste imenso desconcerto
de, olhando a morte de perto,
poder pela vida optar,
ainda que pra adiar
um final que dei por certo,
no dia em que, em grande aperto,
ela me tentou levar
e eu lutei pra conquistar
o espanto em que hoje desperto,
*
Bem como este de acender,
na luta de cada dia,
toda a chama de energia
que esse espanto conceder
e deste, de conceber
a batalha que se adia
mal a vida a contraria,
mas que faço por vencer...
Do mais, que eu nem sei dizer,
nasce, em espanto, a Poesia
*
Pois, cada verso que canto,
sendo ao espanto dedicado,
me parece estar espantado
por ter-me espantado tanto...
Não fosse, porém, o espanto,
que o tivesse originado,
como é que um verso, acossado,
se imporia se, em quebranto,
nascesse afogado em pranto,
em vez de em espanto gritado?
*
Maria João Brito de Sousa - 23.09.2015 - 17.02h