SEM SAIR DO MEU LUGAR
Bebi de todas as fontes
Que por cá pude encontrar;
Andei por terra e por mar,
Escalei escarpas, subi montes
E fui rasgando horizontes
Sem sair do meu lugar.
Paradoxal, na postura,
Crio de dentro pr`a fora;
A mil milénios por hora
E nunca um pneu se me fura,
Nem desgasto a viatura,
Ou a multa me apavora,
Mas, pr`a dizer a verdade,
Vez por outra me ressinto
De estar neste labirinto
E vem roer-me a saudade
De andar sem dificuldade,
Sem destino e por instinto,
Em vez de estar dependente
Da boleia ocasional
Pr`ó GIP ou pr`ó hospital
E incomodar tanta gente
Por ter ficado impotente
Pr`á locomoção normal...
Quaisquer cinquenta passinhos
São, pr`a mim, uma odisseia
Pois logo a dor me golpeia;
Passo a passo, ando uns metrinhos
Sobre estes pés tolhidinhos
Pela força que escasseia...
Maria João Brito de Sousa – 05.09.2017 – 11.22h
(… a brincar, a brincar... mas retratando fielmente a minha realidade)
IMAGEM - "Femme Assise" - Pablo Picasso