QUATRO DÉCIMAS INEXPLICÁVEIS
Isto que ferve - ou me gela.. -
no que me resta das veias
espraiado pelas areias
do que um poema revela,
este meu sangue sem sela,
nem rédeas - pois recusei-as,
libertei-me, ou libertei-as
a mim, às rédeas a ela... -
este meu sangue, à cautela,
preso à vida por ideias,
perde-me, a mim, preso às teias
de uma mera Klebsiela
Mas, porque um sopro lhe resta,
quer galopar, o teimoso,
investe ao sabor do gozo
que o fogo do verbo empresta,
mais corre e mais se encabresta,
por instantes glorioso
se o verso vem pressuroso
fazer-lhe uma simples festa
e a rima lhe acorre, honesta,
esquecendo o sangue viscoso...
E nasce! Tinha razão,
o verbo, em não desistir,
em ser teimoso e fruir
da sua imensa paixão...
Tanto pode a compulsão
que consegue desmentir
tudo quanto reduzir
fronteiras ou dimensão
do que, sem ter explicação,
consiga fazer-se ouvir...
Razões pr`a ser-se poeta?
Não as conheço, mas quis,
por instantes, ser feliz,
correr sem ter uma meta
das que, com razão, prometa
fazer aquilo que diz...
E faço um rabisco a giz
ou traço a forma inconcreta
da cauda de algum cometa
sem rota, nem directriz...
Maria João Brito de Sousa - 09.10.2015 - 16.08h