QUATRO DÉCIMAS AO "MEU" TEJO
Não aceito o preconceito,
nem penso que haja, em verdade,
quem exalte a liberdade
pr`a pôr-lhe, depois, defeito,
mas uma outra coisa aceito
e outra, ainda, se me evade
neste limbo entre a saudade
daquilo que sei ter feito
e este jeito tão sem jeito
de usar a realidade;
Uma mão tecendo a tela,
outra, prescrutando o fio,
fino, frágil, fugidio,
que não uso como trela
e que não me prende à cela
do passado e do tardio,
pois, correndo como um rio,
me transforma em barco à vela,
em jangada, em barca-bela,
em bote, em escuna, em navio,
Quando em mim me centro agora
que a coragem me estremece,
é porque, hoje, me parece
que, assim, mais se me demora
o momento de ir-me embora...
raramente me acontece
fazer, de um poema, a prece
ou a tábua salvadora
de quem é dona e senhora
de mão que, escrevendo, tece,
Mas, se humana... que fazer
se, sentindo que fraquejo,
mostro que ainda desejo
por mais uns tempos viver?
Faço tudo o que puder;
prolongo o curso do Tejo,
remo mais um metro, arquejo...
Ah, dê lá por onde der,
não vou deitar a perder,
do meu rio, tão grato beijo!
Maria João Brito de Sousa - 17.05.2016 - 16.45h