POR TEIMOSIA OU PAIXÃO - Reedição
Tela de minha autoria
digitalizada por Vitor Martinez
*
POR TEIMOSIA OU PAIXÃO
*
Por teimosia, ou paixão,
galguei-te, ó mar que me sondas,
à revelia das ondas
e contra a voz da razão...
Vi espólios de mil naufrágios
onde quer que mergulhei
e, onde eu mesma naufraguei
desprezando os maus presságios,
dei com paixões que eram estágios
do que nunca alcançarei
pois nunca sequer sonhei
fazer delas meros plágios
nem suscitaram contágios
as que ali presenciei:
Em clareiras abissais,
tão profundas, tão escondidas,
nas quais se geraram vidas
que agora não vivem mais
pois sob as ondas letais
estão pra sempre adormecidas
e há tanto tempo esquecidas
que não voltarão jamais,
vislumbrei restos mortais
de mil estradas percorridas
E, sem chorar – pois... pra quê? -,
guardei, no fundo do peito,
mais a noção que o conceito
do que, afinal, o mar é:
A todo o que se lhe dê,
tenha ou não tenha defeito,
conserva em funéreo leito
junto à jangada ou galé
em que ousou, com ou sem fé,
cruzá-lo de qualquer jeito...
Por teimosia...- e paixão! -,
ó mar que ousaste sondar-me,
não caio na tentação
de, pra vencer-te, afundar-me!
*
Maria João Brito de Sousa
26.04.2015
***