POETANDO
POETANDO
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Lembro que um patinador
Patina, não faz patins,
Nem outras coisas afins,
E que qualquer bom escritor
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Escreva, ou não, regularmente,
Não escritura, escreve mesmo;
Ainda que o faça a esmo,
Escreverá concretamente,
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Portanto, lá vai escrevendo,
Seja verso ou seja prosa
E mesmo que abrace a glosa,
Também escritor estará sendo,
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Pese esta irregularidade
Com que o mesmo se confronta
Nessa acção, quando não conta
C`o verbo, em desigualdade...
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Quem medica não “virou”
Fábrica ou laboratório!
De hospital ou consultório,
Para médico estudou.
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Farmacêutico, estudando,
Não quer farmácias erguer;
Muito tem para saber,
Mas não está farmaticando.
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O bom produtor, produz,
Não produta, de certeza,
Tudo quanto chega à mesa
De um condutor... que conduz
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Talvez algum camião
Que na estrada vá rodando,
Em vez de estar camionando...
Eis outra contradição!
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Remador, não faz reminhos,
Faz dos remos profissão!
Remando exerce a função
De ir varando os seus caminhos.
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Arquitecto faz projectos,
Mas não passa a projector
Por produzir tal labor
Nos seus diversos aspectos,
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No entanto, é projectando
Que vai pela vida fora;
Projecta enquanto labora
No que vai arquitectando.
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Por que deve um espectador
De um qualquer filme que passe,
Sentir-se tal qual espetasse,
Quando passa a espetador?
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E o que impede um poeta
De ir por aí poetando
Os versos que for gerando
Se um poema é sempre a meta?
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Poetando, não me assumo
Grávida de poetinhas,
Mas assumo serem minhas
Estas quadras. Meu, o rumo!
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Maria João Brito de Sousa – 07.09.2017 – 11.26h