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http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

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EIS AS MONTANHAS QUE OS RATOS VÃO PARINDO

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PESCARIA(S) Reedição

04.04.23 | Maria João Brito de Sousa

PESCARIA.jpg

PESCARIA(S)
*

I

Lanço a fateixa. A jangada

Estremece e fica parada

No meu mar de beira rio

E à rede, já remendada,

Lanço-a à água... é tudo ou nada,

Que trago o bote vazio:

Venha atum, raia ou safio,

Quando a malha for puxada

E outro mar de água salgada

Dela escorrer, fio a fio!
*

II


Mas se entre as malhas da rede

Não há peixes de verdade

E eu cometo a veleidade

De usá-los como quem cede

À distância que se mede

Entre mentira e verdade

Quando o poema me invade,

Que sede dessoutra sede

Que a minha sede precede,

Traz e leva, a quem nem pede,

Frutos de um mar que é de jade?
*

III

Cordas que apenas invento

Tecem-me as malhas da vida

E foi-me a Barca erigida

Num mar que eu mesma sustento...

Meus remos? Sopros de vento

À espera do que eu decida:

Se quero a fateixa erguida

Sobre um mar tão turbulento,

Ou se aguardo mais um tempo

E lanço a rede em seguida...
*

IV

Pra que banquete, afinal,

Nos convida este poema

Cuja autora faz que rema

No mar do seu próprio sal?

Em que jangada irreal

Singra as ondas do fonema?

Quem lhe diz que vale a pena

E jura não ser por mal

Que estende no areal

Uma ilusão pura e plena?
*

V

Parábola, alegoria,

Mas não mera brincadeira,

Pois não é coisa ligeira

Tecer-se uma fantasia

Que, mais dia, menos dia,

Se há-de tornar verdadeira

Já que sempre achou maneira

De dar vida à pescaria:

Mais pesca quem mais porfia

E esta porfia-se inteira!
*


Maria João Brito de Sousa

02.04.2018 – 19.52h
***

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