OITAVAS MUITO SOLTAS
OITAVAS MUITO SOLTAS
*
Não ando daqui pr`ali
sem saber o que fazer;
Tendo em conta o que perdi,
nada mais tenho a perder
e se, à esquerda, o coração
me empurrou para o seu lado,
não fui sem ter consultado
razões que tinha a razão.
II
Muito embora estando inútil,
nunca fui barata tonta,
nem delego em ganho fútil
questões de tão grande monta
quanto a própria poesia
que de tantos vai brotando
sem que muitos vão notando
que ela produz mais-valia.
III
Quem dá tudo quanto pode,
nunca a mais é obrigado
e, caso alguém se incomode,
responda que já foi dado
tudo o que tinha pra dar,
pois dando o que não tivesse
muito estranho me parece
que não estivesse a aldrabar.
IV
Minha musa entrou em greve
por falta de condições...
Sem ela, fiquei mais leve,
mas também sem mais opções
senão esta de ir escrevendo
quanto me venha à ideia;
Apagou-se-me a candeia
antes do sol estar nascendo.
*
Maria João Brito de Sousa – 18.11.2018 – 19.35h