O DESCANSO DA MUSA
O DESCANSO DA MUSA
(Oitavas)
*
É desejável que a Musa
descanse de quando em quando,
como a maré, recuando
assim que a Lua se escusa
a atraí-la e já confusa,
decide i-la libertando,
por uns tempos abdicando
da ilusão de que a usa...
*
Ganha a Musa, que descansa,
ganha a Lua, que não ousa
perturbar o que repousa
de tão agitada dança...
Repousada, mais alcança
quando em versos se descosa
e não duvido que a prosa
ganhe mais, se nos não cansa...
*
Como a maré, se vazia,
como a terra, se em pousio,
já não escrevo ao arrepio
da força que me movia.
Por que razão deveria
desfazer os nós do fio
sem parar, sem um desvio,
se sinto a Musa arredia?
*
Quando voltar, voltará,
não quero forçá-la a nada!
Sei que volta renovada,
vai dar mais do que ora dá
e a pausa lhe mostrará
não ter sido pressionada.
Vai, Musa! Estás libertada
do que te prendeu por cá!
*
Maria João Brito de Sousa – 11.11.2018 – 11.50h