NO FIO DA NAVALHA
Quase nunca em desespero,
Empunho a vara do espanto
E enfrento o medo sem pranto
Que o não aceito, nem quero,
Pois se outra vida não espero,
Espero, ainda que em quebranto,
Equilibrar, por enquanto,
Este tanto em que me esmero;
Um deslize e volto ao zero,
Piso em falso e... tombo tanto
Que o próprio ar se me esquiva,
Muito embora este meu Tejo,
Este Tejo que protejo
E me tornou criativa,
Possa erguer-se em onda altiva
Pra receber-me num beijo
Já que, vendo o que eu mal vejo,
Sabe que quanto eu desejo
É, pelo fio, chegar viva
Ao cabo desta navalha
Que a vida me concedeu
Porque, à maromba*, fui eu
Quem, mais falha, menos falha,
Com mais gralha, ou menos gralha,
A moldou e a escolheu
Sem fazer grande escarcéu;
“Num agulheiro, achei palha”...
Vá, dá cartas e baralha,
Que eu mais não tenho de meu!
Maria João Brito de Sousa – 12.03.2018 – 16.22h
*MAROMBA – do árabe mabruma, vara usada pelo equilibrista para se manter na corda bamba, situação dificilmente suportável
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