IMPROVISOS
“- Eu remo, meu capitão,
Mas, cá por dentro, o meu medo
Vai-me soprando, em segredo,
Rumores de conspiração
Que dizem que remo em vão,
Que, mesmo em frente, um rochedo
Nos abalroa tão cedo,
Quão tarde eu diga que não...
Forças do braço e da mão,
Não nos salvam... reze um credo!”
“ - Segue em frente, ó remador
Que agoiras tal desventura!
Não cabe à glória futura
Ter espaço pr`a espanto e dor!
Eu, que sou teu superior,
Quero é cega compostura,
Remada firme e segura,
Coragem, esforço e suor!
Esquece os presságios, que horror!
Obedece, ó criatura!”
Três ondas não são galgadas,
Eis que um rochedo letal
Vem pôr o ponto final
Nas controvérsias lançadas,
Porque, pr`ás ondas, são nadas;
Medo ou glória... é tudo igual...
Montanhas de água com sal,
Não são partes int`ressadas
Das causas reivindicadas
Por carne humana e mortal...
Porém, naquilo que eu escrevo,
Cada enredo é todo meu
E juro que não morreu
O que remava, a quem devo
A mesma história em que o levo
Ao ponto onde ele recolheu,
Duma barrica e de um pneu,
Qualquer coisa a que me atrevo
Chamar, com estúpido enlevo,
Jangada... e vinda do céu!
Enredos efabulados,
Vindos de onde eu decidir,
Mesmo absurdos, podem vir!
Há sempre uns versos guardados
Nos tempos mais inspirados
E, enquanto a rima fluir,
Nunca os nego a quem pedir...
Aqui vos ficam lançados
Num final dos mais“forçados”
Com“metro” pronto a escandir...
Maria João Brito de Sousa – 18.01.2015 – 18.58h