GNOSCE TE IPSUM
Mote
“O coração diz-me: - Sim!
Eu digo… nem sei o quê…
Para além do que se vê,
Eu não sei nada de mim…”
António de Sousa, 1944
Glosa
GNOSCE TE IPSUM
Eu procuro, à flor da pele,
Ao poema, o seu sentido
Pois julguei tê-lo perdido
E, não me encontrando nele,
Encontro, em cada papel,
Uma planície sem fim
Como se fosse um jardim
De tamanho desmedido,
Mas mal nel`escrevo, rendido,
“O coração diz-me; - Sim!”
Portanto, insisto em escrever-me,
Vou do contexto, à textura,
Escrevo de forma segura,
Da flor da pele, chego à derme,
Vou mais fundo, sem perder-me,
E, conforme aqui se lê,
Se encontro alguém que o não crê
Que, pervertendo a procura,
Com mil farpas me perfura,
“Eu digo… nem sei o quê…”
Bastar-vos-ia que, ao ler-me,
Lembrásseis que essa leitura
Nunca dispensa ou descura
Uma intenção de entender-me
E eu não recuso bater-me
Por tudo quanto em mim é
Feito da força e da fé
Que escapa à gente imatura
Cuja inconstância tortura
“Para além do que se vê”…
Mal este frio me congele
Antes do tempo devido,
Em vez de ter-me vendido,
Terei provado o tal fel
Que é servido a todo aquele
Que esteja perto do fim
E se isto for desmentido
Por quem, ao tê-lo bebido,
Me diga não ser assim,
“Eu não sei nada de mim…”
Maria João Brito de Sousa – 06.11.2013 – 13.21h
Nota importante para o leitor - Quadra de António de Sousa glosada em décimas