GLOSANDO MEA EM REDONDILHA MAIOR - Reedição
Eu, com três anos na varanda da casa da rua Luiz de Camões
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GLOSANDO MEA VI
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FLOR SILVESTRE
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Sou filha dos verdes campos
Neta talvez dos pinhais
Cresci vendo pirilampos
Rodeada de animais
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Sou flor arisca e silvestre
No meio de ervas nascida
Rebento verde e campestre
Na cidade ando perdida
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Andei descalça na rua
Comi uvas sem lavar
Empurrei uma charrua
Na hora de cultivar
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Protegida plos sobreiros
Dormi sestas de Verão
Embalada plos chilreios
E a folhagem por colchão
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Quando urtigada, dei ais
Comi azedas, murtinhos
Corri entre milheirais
Subi árvores, vi ninhos
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Nas silvas do meu valado
Comi as amoras pretas
Sentei no chão com agrado
Mirei lindas borboletas
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Fiz do gato travesseiro
Nas horas de descansar
E do cão meu companheiro
Em tempo de passear
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Na confusão da cidade
Sente falta a flor silvestre
Daquele ar de liberdade
Nesse espaço tão campestre
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MEA
Maria da Encarnação Alexandre
28/01/2016
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PROGRESSO?
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"Sou filha dos verdes campos"
Mas fui, por qualquer pretexto,
Ficando presa por grampos
A um dif`rente contexto...
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"Sou flor arisca e silvestre"
Transmutada em rocha dura
Quando o vento sopra agreste
E a geada me esconjura
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"Andei descalça na rua"
Apenas para poder
Uivar às fases da Lua
Até a voz me doer
*
"Protegida plos sobreiros",
Inventei-me, eu, protectora
Dos frutos de uns abrunheiros
De que fui dona e senhora
*
"Quando urtigada, dei ais",
Mas não dei um passo atrás;
Desafiei, pedi mais,
Mostrei do que era capaz!
*
"Nas silvas do meu valado"
Ficou preso o meu vestido...
Deixei-o por lá, rasgado,
Estragado, inútel, esquecido
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"Fiz do gato travesseiro"
Sempre tentando entender
Como é que um gato rafeiro
Traz em si tanto saber
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"Na confusão da cidade"
Vou vivendo, mas confesso
Ter certa dificuldade
Em jurar que isto é progresso...
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Maria João Brito de Sousa
24.09.2016 - 13.15h
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Nota - Glosas ligeiramente reformuladas