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http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

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EIS AS MONTANHAS QUE OS RATOS VÃO PARINDO

por muito pequenos que pareçam ser... NOTA - ESTE BLOG JAMAIS SERVIRÁ CAFÉS! ACABO DE DESCOBRIR QUE OS DOWNLOADS SE PAGAM CAROS...

FÁBULA (quase) HUMORÍSTICA

13.08.17 | Maria João Brito de Sousa

ovelha negra.jpg

 

ODISSEIA DA SEMPITERNA OVELHA NEGRA

------------ FÁBULA EM DÉCIMAS -------------

(com um chavelho partido e alguns órgãos a menos...)



Ou me fizeram à pressa

E fiquei por acabar,

Ou quem me quis melhorar,

Desmontou-me peça a peça

Até chegar à cabeça

Em que nem ousou tocar

Porque, estando em seu lugar,

O melhor será que, a essa,

Nem veja quem me começa,

O resto, a re-programar...





Viva mas já despojada

De alguns órgãos dispensáveis,

Estou entre os mais vulneráveis

Elementos da manada

E, de lã negra trajada,

Entre os menos desejáveis...

Porém, aos menos fiáveis

Não direi nada de nada,

Que ovelha negra, escaldada,

Faz opções quase insondáveis...



Passo pelos companheiros

Que, alegres, me vão saudando;

Nenhum pensa como ou quando...

Estando, por enquanto, inteiros,

Vão por estradas e carreiros...

Vai-os, o dono, enganando

Entretendo e empurrando

Pr`á berma, em despenhadeiros

Onde as copas dos pinheiros

Já mal se vão divisando.



Não sei que papel me cabe

Nesta odisseia final,

Mas sou um velho animal

E bicho vivido sabe

Não prestar quem mais se gabe

De saber quando, afinal,

Pode haver um bicho igual

Que é mais matreiro e se evade...

-Diga-me lá, ó compadre;

Acha que isto acaba mal?



O outro, carneiro velho,

Respondeu que nada achava

E a marchar continuava

Sem dignar-se a dar conselho,

Mas muito ao longe um pardelho

Abrindo as asas, voava...

Que bem que agora calhava

Poder trocar um chavelho

Por asas que fossem espelho

Do que esta alma demandava!



Mas... se chavelhos ostento,

Por que não dar-lhes bom uso?

Já fui vítima de abuso

E se nisto me contento,

Ou apenas me lamento,

Vejo que nada recuso,

Que como qualquer recluso

Aceitei o sofrimento

E lancei a sorte ao vento,

Como ao poço um parafuso!



Se o penso, melhor o faço

E dando forte marrada

No algoz da bicharada,

Projectei-o para o espaço

Para o qual `inda há pedaço

Empurrava a carneirada

Que, agora muito agitada,

De repente freia o passo...

 

-Lá vai o grande madraço!

Nem mais uma chicotada!!!





Maria João Brito de Sousa – 13.08.2017 – 18.38h