ERA UMA VEZ....
ERA UMA VEZ...
Era uma vez uma Musa
Que, ao sentir-se atormentada,
Resolveu ficar calada;
Já não canta. Aparafusa.
Aparafusa confusa
Por não estar habituada
Nem à tarefa almejada,
Nem à sorte, que recusa,
De servir quem, de contusa,
Já não serve pra mais nada...
MUSA-
Ó Poeta, estás magoada?
A minha pena te acusa
De em má sorte seres profusa,
Mais do que em rima cantada!
Não foras tão descuidada,
Tão teimosa e tão obtusa,
Cantasses só, alma lusa,
E serias preservada...
Assim, ficas condenada
E para sempre inconclusa!
POETA -
Ó Musa, se não me aceitas
Para o bem e para o mal,
Não mais minha mão te vale,
A ti mesma te rejeitas!
E agora, de que enfeitas
A tua nudez total?
Quem te tempera de sal
Se sozinha não te ajeitas?
Contas feitas e bem feitas
Nosso pacto era ideal!
MUSA -
Poeta, terás razão,
Mas deverás ter em conta
Que sou musa, mas não tonta,
E que, com tanta aflição,
Nunca sei que direcção
Tomar, sem sofrer afronta...
Deixo-te a lira já pronta;
Toma em tua própria mão
O compasso da canção
E uma sorte de tal monta!
Maria João Brito de Sousa – 14.06.2018 – 10.10h
Respondendo ao desafio da MEA – Maria da Encarnação Alexandre - , décimas sob o mote “ERA UMA VEZ”.