DIGNIDADE
Dignidade, ó dignidade,
quanto mais por ti lutando,
mais longe tu vais ficando
do que entendo ser verdade
e, se a dúvida me invade,
como posso ir-te encontrando
se, assim foges ao comando
da minha própria vontade
e, ao verbo, me vai faltando
força e combatividade,
Se, a cada excessivo brilho,
mais te sinto acorrentada,
menos tu, mais deturpada,
como se o meu duro trilho,
não sendo, tão só, meu filho,
fosse coisa alienada
feita de honras... e mais nada,
presas por festivo atilho
no qual toda me ensarilho
tanto mais, quanto enfeitada
Te vou vendo, em demasia?
Como atrever-me a pensar
se esta lucidez falhar
ou me faltar energia?
Como emular a alegria
quando só quiser chorar?
Como estar, quando não estar
é quanto me apetecia?
Quem serás tu, Poesia,
quando o Verbo to negar???
E avanço, uma vez mais...
Como é forte esta paixão
a que não sei dizer não,
mesmo quando diz demais...
diz mil coisas, das banais,
e só lhes porá travão
quando é finda a compulsão!
De todas deixa, em sinais,
as impressões digitais
que há na voz de cada mão...
Dignidade! Essa esquecida
que ao poema deu começo,
esta, onde agora tropeço
numa absurda recaída;
- Nunca te sintas traída,
mesmo quando assim te esqueço
pois, bem mais do que ao que peço,
te devo... e devo-te a vida!
Dóis-me, sim, pois foste f`rida,
mas, por ti, paguei o preço
de dar-me a quem nem conheço
pr`a manter-te, a ti, escondida!
Maria João Brito de Sousa - 01.10.2015 - 16.59h