DE JUBA NEGRA A ESFREGONA
Nem espanador, nem vassoura...
Mais me parece um esfregão
Desses de limpar o chão,
O meu, que não viu tesoura
E há vários anos me agoura
Uma estranha antevisão;
Crescer tanto que a razão
Se me perca, porque estoura...
(atenção! Nunca fui loura,
antes foi côr-de-carvão,
negrinha como um tição,
a minha juba de moura...)
Agora, sal e pimenta,
Mas muito mais do primeiro,
Que o tempo é bom salineiro
E eu entrei pelos sessenta,
Há já quatro... macilenta,
Mas sem tempo, nem dinheiro
Para investir num tinteiro,
Desses em que a tinta assenta
Sobre esta ´massa cinzenta`
Que é o meu cabelo inteiro.
Quis "responder-lhe" em soneto,
Mas só assim foi nascendo
E em décimas crescendo
Como este cabelo preto,
Despenteado, obsoleto
Que aqui lhe fui descrevendo
E que já branco vai sendo
Porque um tempo bem concreto
Lhe deu conta do aspecto,
A "resposta" que eu pretendo...
Maria João Brito de Sousa- 05.12.2016 - 15.19h
(Na sequência do soneto "DE ESPANADOR A TIGELA" de Maria da Encarnação Alexandre)