CONVERSANDO COM SÁ DE MIRANDA II
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CONVERSANDO COM SÁ DE MIRANDA
*
Ó meus castelos de vento
que em tal cuita me pusestes,
como me vos desfizestes!`
*
Armei castelos erguidos,
esteve a fortuna queda,
e disse:– Gostos perdidos,
como is a dar tão grã queda!
Mas, oh! fraco entendimento!
em que parte vos pusestes
que então me não socorrestes?
*
Caístes-me tão asinha
caíram as esperanças;
isto não foram mudanças,
mas foram a morte minha.
Castelos sem fundamento,
quanto que me prometestes
quanto que me falecestes!
*
Sá de Miranda,
in 'Antologia Poética'
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"Ó meus castelos de vento"
Houvesse-vos eu sonhado,
Mas não, deixei-vos de lado...
*
Fiz-me ao mar numa jangada
Sem ter vela nem sextante:
De mim me deixou distante
A maré, pela calada...
Fiz das mãos remos perfeitos,
Mas com tão pequenos remos,
Nunca se chega onde qu`remos...
*
Ficou-me a jangada à d`riva,
Num mar que não tinha fim...
Não mais procurei por mim,
Fiquei da maré cativa,
Mas fui-lhe aprendendo os jeitos:
Não me quebra, ela, a vontade,
Nem a salgo, eu, de saudade.
*
Mª João Brito de Sousa
03.01.2025 - 12.00h
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