CONVERSANDO COM SÁ DE MIRANDA
COMIGO ME DESAVIM
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Comigo me desavim,
sou posto em todo perigo;
não posso viver comigo
nem posso fugir de mim.
*
Com dor, da gente fugia,
antes que esta assi crecesse;
agora já fugiria
de mim, se de mim pudesse.
*
Que meo espero ou que fim
do vão trabalho que sigo,
pois que trago a mim comigo,
tamanho imigo de mim?
*
Francisco Sá de Miranda
(1481–1558)
meo = mais
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COMIGO NÃO DESAVINDA
*
Comigo não desavinda,
Eu mesma em p`rigo me ponho;
Vôo de sonho pra sonho
Pondo as asas na berlinda
*
Se cansada, me deitava
No verso que em mim nascesse,
Hoje esfriei como lava
De vulcão que enfim morresse...
*
Mas no trabalho que em vão
De minhas mãos vai nascendo
Se vez por outra me acendo,
Volto a ser fogo e vulcão!
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Mª João Brito de Sousa
04.10.2023 - 14.00h
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Poema de Sá de Mirada e gravura de João Abel Manta gentilmente cedidos por Fernando Ribeiro
do Blog A Matéria do Tempo.
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