COM MEUS VERSOS...
(Décimas)
I
Com meus versos, moldo enfeites,
Faço brincos de cerejas,
De giestas ou carquejas...
Não me deito onde te deites,
Mas espero que me aceites
Quando sem jóias me vejas...
Não quero é que me protejas
Dos meus pequenos deleites,
Nem daquilo que rejeites
Quando os meus versos cortejas
*
II
Aceito a mão solidária,
Mas jamais aceitarei
Pena ou dó, se os provoquei:
Orgulhosa e solitária,
Sou apenas uma operária
Dos versos que arquitectei...
Chamem-me fora-da-lei,
Porém, nunca mercenária:
Amo a causa partidária
Em que sempre confiei!
*
III
*
Findo aqui, onde me assumo
Cinza que sobrou de mim,
Fruto que, em chegando ao fim,
Terá dado pouco sumo
Mas foi seguindo o seu rumo
Nunca fingindo que sim...
Não sou de ouro, de marfim,
Nem produto de consumo:
Se ardo, desfaço-me em fumo,
Resumo-me a ser assim!
Maria João Brito de Sousa – 17.08.2017 – 19.36h
Imagem - "Fábula e Verdade" - José de Brito (meu bisavô)