COM DEFEITO DE FABRICO
COM DEFEITO DE FABRICO
*
Sou bicho mal acabado
Com defeito de fabrico...
Muito me esforço e me estico
Pr`aguentar, deste legado,
O estrago e o peso pesado
Que contudo não critico:
Estou neste “fico, não fico”
Que me vem desde um passado
Há muito tempo traçado
Por um gene mafarrico...
*
Ponta abaixo, ponta acima,
Feita em cima do joelho,
Tudo em mim está gasto e velho,
Não sou nenhuma obra-prima
E se sou forte na rima
No demais... não me aconselho!
No entanto, é bem vermelho
O coração que me anima
E, batendo, me sublima...
Desde que não me olhe ao espelho!
*
Porque se ao espelho me olhasse
E ao meu reflexo imperfeito
Guardasse dentro do peito,
Talvez de mim não gostasse
E um reflexo me bastasse
Pra não ver senão defeito
Quando tendo afinal jeito,
Não deixo que o tempo passe
Sem opor-me ao desenlace
Com mais um verso escorreito.
*
Maria João Brito de Sousa
14.03.2018 – 11.02h
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