CENÁRIO(S)
CENÁRIO(S)
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Anjos de asinhas de estanho
Mostram sorrisos rasgados
Em simetria traçados
E excessivos em tamanho.
*
Um dragãozinho comprado
No chinês, por baixo preço,
Exibe um corpo alongado
Sobre um tapete algo espesso.
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Junto à janela da sala
De um vaso de dúbio gosto
Brota uma planta que exala
Um cheiro a mofo e a mosto.
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De um gramofone impossível
Sob uns dois dedos de pó
Sai o som quase inaudível
De uma canção de dar dó.
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O espaço que hoje visito,
Todo por mim concebido,
Não é feio nem bonito
E, se existe, está perdido
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Num qualquer imaginário
Ou na remota memória
Do criador do cenário
De um palco morto e sem história.
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Maria João Brito de Sousa - 26.06.2020 - 15.29h