AZAR
Eu, fotografada por Rogério V. Pereira
*
AZAR
*
Conheci uma velhota
C`uma estória singular
Que quis jogar à batota
E acabou por se tramar
*
Depois comprou uma frota
De navios, foi navegar,
Mas partiu sem traçar rota
E acabou por naufragar
*
Pôs um vestido à "cocota"
Para poder desfilar,
Mas o tecido amarrota
E não o soube passar
*
Estava em alegre risota,
Mas veio-lhe a falta de ar,
Que quando o crupe garrota
É mesmo pra sufocar
*
Fez, com neve, uma casota
Numa calota polar,
Veio um urso patriota
E ela cedeu-lhe o seu lar...
*
Disse que era poliglota
Sem saber pronunciar
Uma estrangeira lorota
Que a alguém pudesse enganar
*
Construiu uma palhota
Pra na palhota morar,
Mas tendo de pagar quota,
Não achou com que a pagar
*
Tentou ganhar uma nota
A servir num lupanar,
Mas por ser muito entradota
Ninguém a quis pra dançar
*
Foi até Aljubarrota
Pra com Brites conversar,
Mas Brites depressa enxota
Quem a pá não sabe usar
*
Foi vender peixe prá lota
Sem saber regatear,
E comprou uma marmota
Pelo preço de um jaguar
*
Vestiu camisola rota,
Quis concorrer ao Dakar,
Mas mal saltou para a mota
Ouviu o motor pifar...
*
Levou arsénico à boca
Para se suicidar
Mas tosse, engasga-se, arrota
E desata a vomitar
*
Um rapaz todo janota
Ofr`eceu-se pr`ajudar,
Mas se o fez foi por chacota
E depressa a pôs a andar
*
Em maré de bancarrota
Tentou na banca jogar
Depois ficou em pelota
Pra poder um pão comprar
*
Prá feira levou compota
Tentando uns tostões ganhar,
Mas chamaram-lhe agiota
E ninguém a quis provar
*
Colheu madura bolota
Prá dura fome matar
Mas roubou-lha uma gaivota
Que a andava a sobrevoar
*
Quis ser beata devota
Mas ao espanar o altar
Um anjinho em terracota
Acabou por se quebrar
*
Às tantas fez-se idiota,
Pediu esmola até fartar,
Não viu moeda nem nota
E ficou sem almoçar
*
Foi esta a sua derrota,
Nunca mais quis arriscar
E, a seguir, bateu a bota:
A isto se chama AZAR!
*
Mª João Brito de Sousa
12.12.2024 - 19.00h
***