ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
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(décimas à minha Mistral)
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I
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Pra vos falar com franqueza,
A minha amiga Mistral
Continua a passar mal...
Que insustentável tristeza!
Depois de tanta despesa
E da ida ao hospital,
Não está nem a dar sinal
De se mostrar menos presa
À aflição que mais a lesa;
Uma comichão brutal!
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II
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E, depois da cortisona
Que é o anti-inflamatório
Mais potente e mais notório,
Como há-de valer-lhe a dona
Que não é tão sabichona
Quanto o é no seu empório
De carácter provisório
Com rimas na bujarrona?
Vou ao fundo? Venho à tona
De um drama em nada ilusório?
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III
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Pequenina companheira
E minha felina musa,
Doce Mistral de alma lusa
Em perpétua brincadeira!
Quanto pulas sem canseira
Caçando a sombra, confusa
Quando ela se te recusa
E te toma a dianteira
Da parede de madeira
Na qual a vês como intrusa...
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IV
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Até que a morte me leve
Vou fazer quanto puder
Para te não ver sofrer!
Se a vida me não for breve
Porque em poemas me deve
Quantos deitou a perder,
Até a voz me doer
Jurarei que não subscreve
Quem a tal esforço se atreve
Para viva te manter!
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Maria João Brito de Sousa - 24.06.2020 -18.35h
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PS - Desculpem-me estas décimas um bocadinho MUITO "lamechas", patéticas e excessivas. Também eu tenho as minhas fraquezas e a Mistral é uma delas. "Isto" é mesmo só o coração a falar de costas viradas para a razão...