AI, SE A LUCIDEZ ME FALHA...
“Pobre de mim que sou só,
dentre os mais magra migalha,
se esta lucidez me falha
ao ponto de inspirar dó
quando a rudeza da mó
que espreme, humilha e retalha,
diz, de mim; “peste grisalha...”
e, reduzindo-me a pó
ou chamando-me “totó”,
me aponta e crava a navalha...”
Nunca o disse, mas pensei-o!
Mais; senti-o já na pele!
Venha um verso que protele
tão estranho e perverso meio
de mudar bonito em feio
antes que o destino o sele
estando, eu, colada a ele,
mesmo quando, em verso, anseio
tudo quanto não falseio
por mais que, a mim, me atropele...
Noite e dia mergulhada
neste mar de mil marés,
resisto em cada convés
de uma barca imaginada
em cujo bojo, selada,
rema a força de quem és
quando em mim, que morro aos pés
do que creio.... e porque nada
pode ter-me ajoelhada
aos presságios de outras fés!
Maria João Brito de Sousa – 04.05.2015 – 15.05h