A CRIAÇÃO DAS BARCAS
A CRIAÇÃO DAS BARCAS
(Criatividade, amor e trabalho)
*
Minha terra espreguiçada
Entre Tejo e mar bravio,
Crescendo ao longo do rio,
Pelas ondas abraçada
Como se fora, apressada,
Mergulhar no leito frio
Em que avistasse navio
Onde embarcasse assombrada,
Trocando tudo por nada
Em resposta ao desafio.
*
Barca onde vivo e cresci
Desde que a mim me recordo,
Fruto que afago e que mordo
Tanta vez quantas mordi
Palavras que aqui teci
Nesta presunção de acordo
Em que este relato "engordo"
Com mil coisas que aprendi
Desde o dia em que nasci
E, ao nascer, saltei pr`a bordo
*
Pisando o velho convés,
Tomando os remos nas mãos,
Vencendo os momentos vãos,
Correndo-a de lés a lés
Como se sob os meus pés,
Junto aos pés dos meus irmãos,
Brotassem sonhos tão sãos
Que derrubassem, de vez,
A voragem das marés
Que afogam concidadãos.
*
Barca ideada por mim,
Por tantos mil que, a meu lado,
Fazem do sonho ideado
Luta, projecto e, por fim,
Constroem cama e jardim
Onde era um nada... e nem brado
Seria tido ou achado
Se ninguém sonhasse assim,
Mudando aspereza em cetim
E deserto em verde prado
*
Onda bravia em corcel,
Madeira em barca e, também,
Berço, edifício de alguém,
Mal um prenúncio de mel,
Vencendo agruras de fel,
O compelisse a ser mãe
De quanto à espécie convém;
Filhos, da carne, a cinzel,
Foice e martelo ou pincel,
Vindos de um sonho que tem.
*
Maria João Brito de Sousa – 17.10.2014 – 14.06h