TRATADO DAS HUMANAS PAIXÕES... E AFLIÇÕES PESSOAIS
Sofri das mesmas paixões
no tempo em que era expectável
e, penso, bem mais saudável
viver tais contradições,
mas, mudando as condições...
mudei-me eu, tornei-me estável
na paixão, essa insondável
nascente de criações
e agora, sem dois tostões,
sou bem menos vulnerável;
Só o Verbo, esse improvável,
me condena às compulsões...
Não deixei, porém, de amar!
Creio estar a repetir-me,
mas, agora, sou mais firme,
mais e melhor me sei dar,
tudo faço por explicar
passo a passo, sem medir-me,
e, às vezes, sem permitir-me
falar tão só... por falar,
sem pr`a toda a gente olhar
pr`a melhor me assegurar
de que querem mesmo ouvir-me...
Mais um dia se passou
- outro sem nada fazer... -
e eu tentando perceber
porque é que ainda cá estou
e o que é que de mim sobrou
pr`além da velha mulher;
s`inda sei, ou não, escrever,
se restou ou não restou,
daquilo que sei que sou,
força que dê pr`a viver
Mantendo esse tal sentido
que dava sentido à vida,
ou se, ao invés, `stou perdida
por poder ter-se esvaído
todo inteiro, o desmedido,
o teimoso, o suicida,
"senso de coluna erguida
e de verso decidido"
que comigo tem vivido
antes de eu me ver vencida
Por uma simples bactéria
assassina, oportunista
que até escapou sem ser vista,
mas me deixou na miséria,
c`uma "mazela" tão séria
que inteirinha me "despista"
e que, agora, me contrista
pois, sem voto na matéria,
não escrevo senão "pilhéria"
e temo bem que ela insista,
Que a Hashimoto se lhe alie
e que, juntas, dêm conta
de mim, que ando meia tonta,
à espera que o fim se adie...
Embora jamais me fie
na maleita que me afronta,
é melhor ir estando pronta
e, caso a maleita "pie",
peço ao corpo que porfie
em dar-lhe sova de monta!
Se dá conta do recado...
isso não posso jurar
porque o mais certo é não dar
e ficar todo "achacado",
febril, fraco, atordoado,
bem capaz de se acabar
antes de tempo, a arquejar
como animal acossado
a quem tivessem negado
o direito a respirar...
Maria João Brito de Sousa - 18.05.2016