INTERMITÊNCIAS E MORTE
Naquele preciso momento
Do desfraldar dos milénios,
Sem que alguém o predissesse,
Abriu-se a porta do Tempo
E, à revelia dos génios,
Não mais houve quem morresse.
Ouvi que se apaixonara
A Morte por um Mortal
Que era músico amador,
Que a paixão lhe saiu cara,
Que acabou por correr mal
Esse baptismo de amor…
Gostaria de o ter lido
Mas tão só ouvi dizer
Que o enredo foi narrado
Por alguém que ao ter morrido
Deixou de a tentar deter
E desistiu, já cansado.
Mas a Morte, arrependida,
Envergou mantos de luto
Por tão estranho narrador
E fez questão de que a Vida
Tornasse eterno o seu fruto
De Poeta e de Escritor.
Há estranhas intermitências
Nestes humanos percursos
E a criação produtiva
Explode em claras transcendências,
Sem sujeitar-se aos recursos
Da convicção punitiva.
Maria João Brito de Sousa – 30.06.2010
A José de Sousa Saramago
IMAGEM RETIRADA DA INTERNET