NÓS, OS HUMANOS MORTAIS
Nós só traremos na voz
Aquilo que nos sobrar
Da estranha reconstrução
Do que sendo, quando sós,
Pudermos, depois, deixar
À posterior geração.
Somos retalhos de vida,
Peças de um puzzle maior
A que sempre faltam peças,
Na procura indesmentida
Da razão, seja qual for,
Das incumpríveis promessas…
Somos, geneticamente,
Um genoma idealizado
Pronto pr`a sobreviver
Num planeta estranhamente
Complexo e organizado,
Que está sempre a renascer…
Alguns de nós são imunes
Às inclemências da morte
[quando a morte é esquecimento…]
Mas nunca fomos impunes
À lei que diz que o mais forte
Viverá muito mais tempo…
Constantemente oscilamos
Entre a dúvida nihilista
E a mais ingénua certeza
Sem saber por onde vamos,
Sem termos a menor pista
E, às vezes, sem pão na mesa…
Somos estranhas criaturas
Capazes da construção
De coisas tão excepcionais
Que vão desde ditaduras
À sua contradição…
E, afinal... simples mortais!
Maria João Brito de Sousa