POEMA COM NÓ NA GARGANTA
Quando o poema desata
Esse nó que o estrangulava,
Desponta com força tal
Que desatina e delata
Tudo o que então sufocava
E há quem possa ficar mal…
Por vezes torna-se hostil
Se alguém o tentar prender
Ou, de algum modo, calar,
Mas nunca será tão vil
Que outro tanto vá fazer
Ao que o tentou sufocar.
Poema, desata o nó,
Grita essa tua vontade
Como quem já não tem tempo!
Não cales, não tenhas dó
De quem, negando a verdade,
Ousou roubar-te o talento!
Fala da velha censura,
Desses dias de temor
Em que, inventando futuros,
Sonhavas ter a ventura
De dar voz à tua dor
E derrubar velhos muros!
Maria João Brito de Sousa