FADO FILOSOFADO SOB UMA CHUVA REAL...
Bati às portas do Tempo
- um portão cheio de grades -
Sem pensar, por um momento,
Que ele me desse novidades…
- Bom dia, meu velho amigo!
Que rude Inverno trouxeste…
Não há nem sombra de abrigo
Nesta abóbada celeste!
- Amiga, assim me fizeram…
Ora sereno e bondoso,
Ora, como me quiseram,
Implacável e teimoso!
Mas tu, que tanto me estranhas,
Que me achas tão transtornado,
Repara nas tuas manhas,
Antes de me achares culpado!
É que, se agora te queixas
Desta minha condição,
Se reparares, também deixas
Transpirar tua emoção!
Já te vi gemer, chorar
E já te vi bem disposta,
Ora serena e lunar,
Ora pronta a dar resposta!
- Tens razão! Somos instáveis!
Somos apenas versões
Das vontades insondáveis
De estranhas contradições…
Tentamos sempre apontar
Os defeitos do alheio
Nunca sabendo aceitar
O que em nós possa ser feio…
Mas esta nossa conversa
Teve uma razão de ser!
Filosofámos, à pressa,
E eu já mal sinto chover!