RISO E CHORO
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RISO E CHORO
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Digo, de minha justiça,
Que vos não farei queixinhas
De mazelas que são minhas
E com as quais ando à liça
C`uma espada de cortiça
E um sem-fim de outras mezinhas...
Destas coisas comezinhas
Nada digo e deixo omissa,
Numa postura submissa,
A razão das fugazinhas...
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Devo, contudo, frisar
Que não foi de ânimo leve
Que me calei. Quem se atreve
A vir-me contrariar
Quando algo maior que o mar
Me prendeu e me deteve?
Se esta fuga não foi breve,
Não me posso a mim culpar:
Sem asas, não sei voar
E penas, quem nunca as teve?
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Sinto-me, porém, tentada
A contar-vos a verdade
E a verdade é que a vontade
Me deixou desamparada,
Sem garra pra escrever nada
Que tivesse qualidade...
Temi que a vulgaridade
Ma tivesse aprisionada
Numa armadilha engendrada
Por perfídia ou por maldade...
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Mas basta de mentirolas!
Se vos não digo o que sinto,
Minto, minto, minto, minto
E só escrevo coisas tolas!
Já não sou eu, ora bolas!,
Sou o que aos outros consinto...
Encolho-me, aperto o cinto,
E passo a ser uma artolas
Com mais capas que as cebolas,
Mas sem vestígios de instinto!
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Faço as queixas que entender,
Rindo ou chorando. O que importa
Não é ter a saia torta
Nem a blusa a condizer,
E sim, diga o que disser,
Estar viva e sentir-me morta!
Não ser eu não me conforta
Nem me dá qualquer prazer
Ser o que eu não quero ser
Se algum mal me bate à porta
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Não calarei dor, nem riso!
Quem me jura ter vivido
Sem ter chorado e ter rido?
Um faz bem, outro é preciso...
De vós, nem o mais conciso
Disso fará desmentido
Que a vida só faz sentido
Porque estes dois, sem aviso,
Dando ganho ou prejuízo,
Muita tragédia hão vencido!
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Mª João Brito de Sousa
07.10.2025 - 20.00h
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