CANTANDO COM CAMÕES - XV
Imagem de um poço rural
gerada a meu pedido pelo Chat-GTP
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TROVAS
*
{Vós} sois üa dama
das feias do mundo;
de toda a má fama
sois cabo profundo.
A vossa figura
não é para ver;
em vosso poder
não há fermosura.
{Vós} fostes dotada
de toda a maldade;
perfeita beldade
de vós é tirada.
Sois muito acabada
de tacha e de glosa:
pois, quanto a fermosa,
em vós não há nada.
De grão merecer
sois bem apartada;
andais alongada
do bem parecer.
Bem claro mostrais
em vós fealdade:
não há i maldade
que não precedais.
De fresco carão
vos vejo ausente;
em vós é presente
a má condição.
De ter perfeição
mui alheia estais;
mui muito alcançais
de pouca razão.
*
Luís de Camões
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TROVAS DA DAMA INSULTADA
*
Creio estar ouvindo
Um burro a zurrar,
Mas de onde está vindo
Não sei indicar...
Talvez meio humano
Possa este asno ser...
Se o pudesse ver,
Dar-lhe-ia c`um pano
No focinho, em cheio,
Que este é bicho feio,
Monstro sem decoro
Que só desaforo
Sabe debitar...
XÔO, vai-te daqui
Ó alma penada
Que não sabes nada
Mas falas assi!
Eu, feia e maldosa?
Eu cujo cabelo
De brilhante e belo
Faz inveja à rosa?
Eu de cuja graça
- graça indesmentida -
Por santa sou tida,
Louvada na praça?
XÒO, ó cousa ignóbil,
Cala-te de vez
Ou racho-te em três
Por me ter`s por móbil!
Mostrengo asqueroso,
Vou silenciar-te,
Não irás livrar-te
De escárnio e de gozo!
Vai-te, asno infernal,
Vai-te cousa horrenda
Que não tens emenda
E zurras tão mal!
Se outro zurro eu ouço,
Por débil que soe,
Que Deus me perdoe,
Mas lanço-te ao poço!
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Mª João Brito de Sousa
29.12.2024 -22.30h
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As Trovas de Camões
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