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http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

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EIS AS MONTANHAS QUE OS RATOS VÃO PARINDO

por muito pequenos que pareçam ser... NOTA - ESTE BLOG JAMAIS SERVIRÁ CAFÉS! ACABO DE DESCOBRIR QUE OS DOWNLOADS SE PAGAM CAROS...

NOVEMBRO DE MÁ MEMÓRIA!

14.06.24 | Maria João Brito de Sousa

 

HARMONIA E PRECONCEITO - 2004.jpeg

*

NOVEMBRO DE MÁ MEMÓRIA


*


Em Novembro, aos vinte e cinco,

Deu-se o golpe traiçoeiro

Que algemou quem, com afinco,

Plantou cravos no canteiro,
*


Amassou o pão que eu trinco,

Libertou um povo inteiro,

Deu-me as letras com que eu brinco,

Tornou livre o prisioneiro...
*


Aos vinte e cinco, em Novembro

- Ah, que mês de má memória! -

Foi assim, que eu bem me lembro
*


Que ganhando alento a escória

Foi tentar, membro por membro,

Arrancar de Abril a glória!
*

 

Mª João Brito de Sousa

14.06.2024 - 13.15h
***

 

(Sonetilho)

MARIA SEM CAMISA, 2024

06.06.24 | Maria João Brito de Sousa

Campanha CDU (1).jpg

MARIA SEM CAMISA, 2024


*
I
*

Quando essa Maria viste

tão triste quanto alquebrada

no fundo não viste nada

pois Maria, embora triste,

sempre à tristeza resiste:

Guarda nela a madrugada

que em tempos se fez à estrada

da justiça que lhe assiste,

que não morreu, que persiste

muito embora atraiçoada
*

II
*

Viste Maria passando

com Abril no seu regaço,

mais segura a cada passo

de quanto passo ia dando

até Novembro... foi quando

sem o ver, pisou um laço

de armadilha num pedaço

do chão que estava lavrando,

por desgraça condenando

Abril a quase fracasso
*

III
*

Julgas morta essa Maria,

mas do chão que ela lavrou

outra Maria brotou

trabalhadora e sadia:

É essa a que aguarda o dia

que a outra testemunhou

nesse Abril que já passou

mas que cheio de ousadia

plantou a Democracia

no mesmo chão que a matou
*

IV
*

Se a não vês porque a cegueira

de algum Novembro traidor

te vendou, olha melhor

para que a vejas inteira

ao lado de uma ceifeira

que a irmanava em valor

já que por causa maior

também lutou sem canseira

até tombar numa leira

regada plo seu suor
*

V
*

Sei que há muitos confundidos

pelos seus póprios algozes

que em conjunto erguem as vozes

fingindo - pois são fingidos! -

não serem grandes bandidos

que intentam coisas atrozes

pra dar em pequenas doses

aos que lhes fiquem rendidos

e os queiram bem recebidos

mesmo sendo bestas f`rozes
*

VI
*

Eu, que conheço Maria,

não posso ter pretenções

a calar esses vilões

através da poesia

e prevejo uma razia

que trará contestações...

Cá tenho as minhas razões

pois sei que a demagogia

sempre serve a vilania

que puxar por mais galões...
*

VII
*

Ó mulher de pouca fé,

ó homem de fraco senso,

se pensais tal como eu penso

porque andais de marcha à ré?

Pois não vedes que a maré

deste mar enorme, imenso,

vai e vem sempre em consenso

com o que ela própria é?

Se podeis por-vos de pé

Sois da espécie a que pertenço!
*

VIII

*
Mas se, enfim, temeis perder-vos

neste mar em que navego,

eu nenhum temor vos nego,

também eu sou carne e nervos

já nada posso valer-vos,

pouco mais vejo que um cego...

Mas não sou serva de um ego

que me diga não dever-vos

mais do que devem os servos

aos que lhes dão bom emprego!
*

IX
*

Como tal, aqui me vedes,

descamisada e sem Musa,

vestindo uma velha blusa

e entre estas quatro paredes

onde matei fomes, sedes,

mil coisas que ninguém usa

e onde escrevo o que hoje abusa

dos que navegam nas redes

qu`rendo ler, como vós qu`redes,

prosa curta e não profusa...
*

X

*
Mas se em verdade lamento

retornar desta maneira

tal qual jorro de torneira

que travar nem sequer tento,

de jorrar mais me contento

que de ficar na cadeira

cansada de ser canseira

prá madeira em que me sento

em vez de ousar, como o vento,

ir beijando a Terra inteira.
*

 

Mª João Brito de Sousa

06.06.2024 - 23.15h
***

Imagem com cerca de uma década

digitalizada pelo camarada João Luís Ventura