MATA BICHO
MATA-BICHO
*
Hoje, à hora do costume,
Nem mais tarde, nem mais cedo,
Fui desvendando o segredo
De uma chaleira que, ao lume,
Vai exalando o perfume
Do café que me concedo...
Agora e todos os dias
Como se consolo houvesse
Pra quem de tanto carece,
Encho as minhas mãos vazias
De estrofes das poesias
Que nunca sei quem me of`rece...
*
Sempre à hora do costume,
Nem mais tarde, nem mais cedo,
Tudo o que sou se resume
Ao lume do qual procedo...
*
Amanhã... sei lá se acordo...
Mas... eu quero lá saber!
Enquanto puder escrever,
Gravo nos versos que mordo,
- com todo o prazer, recordo... -
O que mais me der prazer
E esta grata sensação
De ser moldada ao moldá-los
Faz com que, ao saboreá-los,
Esqueça o café no fogão,
Esqueça a fome e esqueça o pão
Com que devo alimentá-los...
*
Sempre à hora do costume
De um relógio que não pára
Rume lá pra onde rume
A Musa que me é tão cara...
*
Gasto-me... e não gasto nada!
Não se apaga a chama que arde
Como a alma de um cobarde
Se apaga se for soprada,
Mas há sempre um estranho travo
No mais doce dos sabores
E, se há palavras com cores
Que sorriem como um cravo,
Outras há que, num tom cavo,
Soltam gritos e estertores...
*
Todo o dia, a cada instante
Da tal hora do costume
- nem atrás, nem adiante -
Em que renasço... e sou lume!
*
Maria João Brito de Sousa
18.02.2016 - 20.25h
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Poema reformulado e reeditado