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http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

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EIS AS MONTANHAS QUE OS RATOS VÃO PARINDO

por muito pequenos que pareçam ser... NOTA - ESTE BLOG JAMAIS SERVIRÁ CAFÉS! ACABO DE DESCOBRIR QUE OS DOWNLOADS SE PAGAM CAROS...

MODINHA DOS VENDILHÕES - Reedição

30.09.23 | Maria João Brito de Sousa

TELA DE EL GRECO.jpg

Purificação do Templo - El Greco

*

MODINHA DOS VENDILHÕES
*


No tempo dos vendilhões

Anda o relógio ao contrário

E enchem a pança os patrões

C`o que cabe ao proletário!
*

 

É entrar meu amigo,

Venha ver o que se passa:

Perde o que trabalha abrigo

Pró ricaço que anda à caça
*

 

E até o remediado

Vê a vida a andar pra trás,

Nas contra-voltas de um fado

Que não mais nos deixa em paz!
*

 

Estas multinacionais

Estão cada vez mais gordinhas

E nós, menos que animais,

Roemos ossos e espinhas!
*

 

No tempo dos vendilhões

Anda o relógio ao contrário

E abundam palavrões

Que nem estão dicionário
*

 

Regurgitam alguns "sábios"

Perfeitos nacos de prosa

Saídos dos alfarrábios

De uma imprensa cor-de-rosa...
*

 

Se muitos há que protestam

Sem qualquer ideologia,

Outros há que ainda emprestam

Ao protesto essa energia
*

 

Que contraria os ponteiros

Do relógio avariado

E, sem balas nem morteiros,

Pode mudar este fado:
*

 

No tempo dos vendilhões

Anda o relógio ao contrário

E enchem a pança os patrões

C`o que cabe ao proletário!
*

 

Mª João Brito de Sousa

29.09.2022 - 15.00h
***

SOBRAS - Reedição

29.09.23 | Maria João Brito de Sousa

Eu e Carlos Ricardo, Sara Andrade (1).JPG

Eu com Carlos Ricardo

Fotografia de Sara Andrade

*

SOBRAS
*


Sobra a cinza do cigarro

e alguns nós dados à pressa

na corda onde recomeça

esta vida a que me agarro:

poeta com pés de barro

que a toda a hora tropeça,

sobre-me, embora, a cabeça,

nestes pés sempre me esbarro

e hora após hora me amarro

aos fios que outro alguém me teça
*


De mim, sobre o que sobrar,

restar-me-á quanto chegue

pra que a morte me não negue

mais tempo pra cá ficar?

Tendo a sementeira entregue,

há-de haver alguém que a regue

sempre que ela estiolar...
.

Eu, de tanto semear,

espero que a semente pegue

e dê fruto que aconchegue

todo o que o venha a provar.
*


Pouco peço... e peço tanto!

Todo o vate, a dada altura,

teme a morte prematura:

muda-se-lhe o verso em pranto,

perde força, perde encanto,

todo rescende amargura,

mas... enquanto a vida dura,

vai escrevendo sem quebranto:

Porque a Poesia é espanto,

ser-se poeta não tem cura!
*

 

Maria João Brito de Sousa

15.05.2016 - 14.45h
***

(RE)NOVOS LUSITANOS - Reedição reformulada

28.09.23 | Maria João Brito de Sousa

 

4 - Mai 2012 - Guida, Mª João, Isa e  Rosalina.JPG

Fotografia de Carlos Ricardo

*

(RE)NOVOS LUSITANOS
*


Tentei erguer um império

No coração de um mortal

E escrever versos a sério

Na barra de um avental...
*

Disto nasceu-me um mistério

Ainda por desvendar:

Como pode um verso etéreo

Ser tão mais forte que o mar?
*


Então desfraldei as velas

Deste estranho imaginário

E fiz das dores e mazelas

Um galeão de corsário...
*


Hoje heroica lusitana

Dos tempos que vão correndo,

Navego na minha cama

Sobre os sonhos vou tendo!
*

 

Mª João Brito de Sousa

2002
***

In Arquétipos de Uma Mulher Interrompida

Poema reformulado
***

Na fotografia, da esquerda para a direita

Guida Ricardo, MªJoão B.Sousa, Isa e Rosalina

EXORCISMO

25.09.23 | Maria João Brito de Sousa

FERIDA - Fotografia minha MJBS.jpeg

Fotografia de Mª João Brito de Sousa

*

EXORCISMO
*


Ó Senhora da Agonia,

quão mais perco em Liberdade,

mais me sobra em poesia,

mais me falta em dignidade!
*

Fora eu caso isolado

e à demais população

não faltasse nunca o pão

nem a bênção de um telhado,

seria pouco acertado

lembrar a Revolução...

Mas falta e lanço o refrão

pr` avisar: -"Tenham cuidado,

não votem no sítio errado,

votem com muita atenção!"
*


Anjo da Guarda das Crises

da Vontade Colectiva,

vai mantendo a chama viva,

não vá surgirem deslizes

pois, pra sermos infelizes

já nos basta o que nos priva

de ter uma voz activa

face à força dos países

que criaram directrizes

pra no-la terem cativa
*


Senhora dos Paradigmas,

olhai que a luta de classes

existe, não tem enigmas,

nem se esfuma em tais impasses!

Ó meu povo, tem cuidado,

não votes só por votar,

não te vá a mão falhar

ao pôr a cruz no quadrado,

pois é bom que o resultado

seja o que, a ti, te int`ressar

e não o voto enganado

que tão bem tem recheado

o bolso a quem mais roubar
*


Ó Senhora da Agonia,

quão mais perco em Liberdade,

mais me sobra em poesia,

mais me falta em dignidade!
*


Sei que é pão-pão/queijo-queijo,

tudo o que aqui deixo escrito

que pode não ser bonito,

mas diz tudo o que eu desejo

que diga, enquanto versejo

sobre aquilo em que acredito

e um português, mesmo aflito,

sempre entende um bom gracejo

e eu não sei exprimir num beijo

o que aqui expressei num grito!
*


Maria João Brito de Sousa

25.09.2015 - 21.09h
***

GLOSANDO MEA EM REDONDILHA MAIOR - Reedição

25.09.23 | Maria João Brito de Sousa

3 anos, na varanda da casa da rua Luís de Camões, Algés (2) (1).jpg

Eu, com três anos na varanda da casa da rua Luiz de Camões

*

GLOSANDO MEA VI
*


FLOR SILVESTRE
*

 

Sou filha dos verdes campos

Neta talvez dos pinhais

Cresci vendo pirilampos

Rodeada de animais
*

 

Sou flor arisca e silvestre

No meio de ervas nascida

Rebento verde e campestre

Na cidade ando perdida
*

 

Andei descalça na rua

Comi uvas sem lavar

Empurrei uma charrua

Na hora de cultivar
*

 

Protegida plos sobreiros

Dormi sestas de Verão

Embalada plos chilreios

E a folhagem por colchão
*

 

Quando urtigada, dei ais

Comi azedas, murtinhos

Corri entre milheirais

Subi árvores, vi ninhos
*

 

Nas silvas do meu valado

Comi as amoras pretas

Sentei no chão com agrado

Mirei lindas borboletas
*

 

Fiz do gato travesseiro

Nas horas de descansar

E do cão meu companheiro

Em tempo de passear
*

 

Na confusão da cidade

Sente falta a flor silvestre

Daquele ar de liberdade

Nesse espaço tão campestre
*

MEA
Maria da Encarnação Alexandre

28/01/2016
***


PROGRESSO?
*

 

"Sou filha dos verdes campos"

Mas fui, por qualquer pretexto,

Ficando presa por grampos

A um dif`rente contexto...
*

 

"Sou flor arisca e silvestre"

Transmutada em rocha dura

Quando o vento sopra agreste

E a geada me esconjura
*


"Andei descalça na rua"

Apenas para poder

Uivar às fases da Lua

Até a voz me doer
*


"Protegida plos sobreiros",

Inventei-me, eu, protectora

Dos frutos de uns abrunheiros

De que fui dona e senhora
*


"Quando urtigada, dei ais",

Mas não dei um passo atrás;

Desafiei, pedi mais,

Mostrei do que era capaz!
*


"Nas silvas do meu valado"

Ficou preso o meu vestido...

Deixei-o por lá, rasgado,

Estragado, inútel, esquecido
*


"Fiz do gato travesseiro"

Sempre tentando entender

Como é que um gato rafeiro

Traz em si tanto saber
*


"Na confusão da cidade"

Vou vivendo, mas confesso

Ter certa dificuldade

Em jurar que isto é progresso...
*


Maria João Brito de Sousa

24.09.2016 - 13.15h
***

 

Nota - Glosas ligeiramente reformuladas

DO HUMANISMO E DA SUA ANTÍTESE

15.09.23 | Maria João Brito de Sousa

arbeit macht frei - wikipédia.jpg

DO HUMANISMO E DA SUA ANTÍTESE
*


Coitados dos reformados,

Pobres dos que são doentes

Porque serão condenados

Inda que estando inocentes...
*


Se esta lei nos for imposta,

"Só manduca quem trabuca!",

E não puder ser deposta

Pelos qu`inda tenham "cuca"
*


Os mais velhos dentre os velhos,

Em vez de serem cuidados,

Irão vergar os joelhos

Pra serem guilhotinados
*


E quem sofra de doença

Crónica, incapacitante,

Irá ter, como sentença,

O Não do seu semelhante
*


O Mundo ficará forte

Em termos de economia

Quando condenar à morte

Qualquer humana avaria!
*


Mas... depois... pensemos bem,

Seremos ainda humanos,

Ou essa lei só nos vem

De monstros e de tiranos?
*


É que houve, em tempos, um louco

Que quis um mundo ideal

E matou de tudo um pouco

Por perversão natural
*


Não faltou quem o seguisse

Nem quem muito o venerasse,

Mas pior fez quem fingisse

Que nada vira... e calasse!
*


Não vejo maior desgraça

Do que esquecê-lo e tentar

Ressuscitar esta "raça"

Cujo anseio é... exterminar!
*


Mª João Brito de Sousa

15.09.2023 - 16.39h
***

Imagem retirada da Wikipédia
***

 

SONETILHO ANTI ANTI-SONETO

02.09.23 | Maria João Brito de Sousa

Sonetilho anti-anti- soneto (1).jpg

Anti-Soneto

Ao Mário Sá Carneiro
*

O nosso drama de portugueses,

O nosso maior drama entre os maiores

Dos dramas portugueses,

É este apego hereditário à Forma:

Ao modo de dizer, aos pontinhos nos ii,

Às virgulas certas, às quadras perfeitas,

À estilística, à estética, à bombástica,

À chave de ouro do soneto vazio

- Que põe molezas de escravatura

Por dentro do que pensamos

Do que sentimos

Do que escrevemos

Do que fazemos

Do que mentimos.
*

Carlos Queirós Ribeiro

(in "Cadernos de Poesia, nº1, 1ªsérie, 1940)
***

RESPONDENDO AO POEMA "ANTI SONETO"

de Carlos Queirós Ribeiro
*

SONETILHO COM PONTOS NOS ii
*


Fosse esse o mal, caro amigo,

Estaríamos todos bem:

Quem coloca um mero artigo

No lugar que mais convém?
*


Quem conhece o metro antigo,

E a harmonia que contém?

Não sabe, amigo, o que é perigo,

Nem quer ver de onde ele nos vem!
*


Não tema os pontos nos ii,

Nem a vírgula certeira!

Aceite, como eu o fiz,
*


A poesia! Toda, inteira!

Não sabe, amigo, o que diz,

E o que afirma é pura asneira!
*

 

Mª João Brito de Sousa

01.09.202023 - 21.50h
***

 

SONETILHO II - Reedição

01.09.23 | Maria João Brito de Sousa

António de Sousa no Douro.jpg

SONETILHO II
*


Fui rei da vida e da morte

no tempo em que era menino,

mas nunca cri no destino,

embora crendo na sorte...
*


Se fiz do verso o meu norte,

vi-me em total tal desatino

quando o poema - o ladino... -

me exigiu; - "Mais e mais forte!"
*

Tomei as rédeas da vida

muito antes de estar perdida

a força que trago em mim
*

E lancei-me na corrida

sabendo ser-me devida

esta que corre pró fim.
*


Maria João Brito de Sousa

30.08.2016 - 17.34h
*

Ao António de Sousa, meu avô poeta

(Saudando as águas, ao fundo, na fotografia)
***