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SÃO TRÊS
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São três, garanto! São três!
Lembro-me bem de os contar,
Um por um, sem me enganar,
E não mais, de cada vez...
Serão pouquinhos, talvez,
Mas não poderão faltar
Àquilo que eu não calar
Quando, em chegando os porquês,
For dito que o português
Não gosta de trabalhar...
São três trabalhos! Três galhos
Da poda de cada dia,
Ornando a melancolia
Dos mais gastos, dos já falhos,
Dos que, feitos em frangalhos,
Vivem, só por simpatia,
Do que outrém não viveria...
São capachos de assoalhos,
Quais miseráveis retalhos
Do que embolsa a mais-valia...
Três formas inconformadas,
Três almas por recordar
Que terei de desfiar
Em rimas metrificadas,
Três questões tão só esboçadas
Que não sei qualificar,
Mas não quero abandonar
Porque estão quantificadas...
Três, nunca identificadas,
Razões pra pôr-me a cantar!
Três coisas, no masculino...
Trabalhos, sim, estava escrito
E, no que escrevo, acredito,
Não tenho falta de tino!
Mas... três velhos sem destino
Dão nos três nadas que cito
E não é nada bonito
Meter-me em tal desatino...
Decerto não desafino,
Mas... cantar sem ter um fito?
São três memórias perdidas,
Coisas sem-pés-nem-cabeça,
Gestos colhidos à pressa
Das praças e avenidas,
Da minha... ou das vossas vidas,
Como quem passa, tropeça,
Não nota e perde uma peça...
Três me ficaram caídas,
Três me instigam: Recomeça!
(mais três promessas traídas!)
*
Maria João Brito de Sousa
28.08.2015 - 17.57h
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