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http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

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EIS AS MONTANHAS QUE OS RATOS VÃO PARINDO

por muito pequenos que pareçam ser... NOTA - ESTE BLOG JAMAIS SERVIRÁ CAFÉS! ACABO DE DESCOBRIR QUE OS DOWNLOADS SE PAGAM CAROS...

A PRIMEIRA CAMINHADA DO POETA - Reedição

25.05.23 | Maria João Brito de Sousa

A primeira viagem do poeta (1).jpeg

A PRIMEIRA CAMINHADA DO POETA
*

I
*

Percorreu o mundo inteiro

quando este mundo era, ainda,

uma selva agreste, infinda:

Caiu em muito atoleiro,

perdeu pé quando o ribeiro

que atravessava, na vinda

de uma vila amena e linda,

num repente traiçoeiro

transbordou do seu carreiro...

Seu nome andou na berlinda
*


II


*
Resistiu, sobreviveu

a mil coisas que nem sonho,

provou do que é mais medonho,

mas nem assim se rendeu:

Não houve terra, nem céu,

que não sondasse, risonho,

ou, vez por outra, bisonho,

ora juíz, ora réu

de um tribunal* muito seu,

onde agora o pressuponho
*


III
*


E cabe-me a mim, poeta,

transformar em narrativa

esta história presuntiva

mas possível e completa,

verosímil e concreta

para que o poeta a viva

e, numa Barca cativa,

se faça à rota secreta

que seja a sua dilecta,

porquanto imaginativa.
*


IV
*

 

Aqui dou por terminada

esta primeira Odisseia

de um poeta que se estreia

e que, sendo acidentada,

será dura e muito ousada:

não sei é bonita, ou feia,

sei que ninguém a refreia

mesmo quando ameaçada,

punida ou chantageada

por quem, maldoso, a falseia.
*

 

Maria João Brito de Sousa

24.09.2016 - 19.28h
***

 


*alusão à consciência

 

DANDO UM ROSTO À VOZ QUE TENHO - reedição

18.05.23 | Maria João Brito de Sousa

Maria João com Fernando Cunha Sá.jpg

DANDO UM ROSTO À VOZ QUE TENHO
*

I
*

Que coisa fiz, ou não fiz,

Que às coisas que tenho feito

Juntasse nódoa ou defeito

Ou dissesse o que eu não quis?

Do que o bom senso me diz,

Repito aquilo que aceito:

Estar e ser deste meu jeito

É que me torna feliz

Mesmo ferindo a cicatriz

De um antigo preconceito…
*

II
*

Nesta postura me privo

Duma imagem que convém

A quem fuja do desdém

De uns poucos com quem convivo,

Mas, se um só ficar cativo,

A mim só me fará bem

Ir um pouco mais além

Sem prender-me ao velho arquivo:

Antes, num poema esquivo,

Dou rosto à voz que o contém!
*
III

*
Se frontalmente me assumo

Dando um rosto à voz que tenho,

Se escrevo e nem me detenho

Nos planos de um novo rumo,

Se é tão pouco o que consumo,

Se outro rumo, sendo estranho,

Me fizer franzir o cenho

Como se eu, mero resumo

Da tal “obra” em que me aprumo,

Fosse o que eu mesma desdenho
*

IV
*

Por que fingir-me dif`rente?

Pra quê “morna e colorida”

Se directa e desabrida

Tanto digo a tanta gente?

Pobre, mas nunca indigente,

Pardal bravo ou fera ferida,

Não procurarei na vida

Muito mais do que a semente

Que é pequena mas faz frente

À aridez mais ressequida
*


Maria João Brito de Sousa

06.07.2014 – 18.33h
***

SOBRAS... - Reedição

17.05.23 | Maria João Brito de Sousa

Eu, com o pc, 2009 (2).jpg

SOBRAS...
*


Sobra a cinza do cigarro

e alguns nós dados à pressa

na corda onde recomeça

esta vida a que me agarro:

poeta com pés de barro

que a toda a hora tropeça,

sobre-me, embora, a cabeça,

nestes pés sempre me esbarro

e, hora após hora, me amarro

aos fios que outro alguém me teça
*


De mim, sobre o que sobrar,

restar-me-á quanto chegue

pra que a morte me não negue

mais tempo pra cá ficar?

Tendo a sementeira entregue,

há-de haver alguém que a regue

sempre que ela estiolar...
.
Eu, de tanto semear,

espero que a semente pegue

e dê fruto que aconchegue

todo o que o venha a provar.
*


Pouco peço... e peço tanto!

Todo o vate, a dada altura,

teme a morte prematura:

muda-se-lhe o verso em pranto,

perde força, perde encanto,

todo rescende amargura,

mas... enquanto a vida dura,

vai escrevendo sem quebranto:

Porque a Poesia é espanto,

ser-se poeta não tem cura!
*


Maria João Brito de Sousa

15.05.2016 - 14.45h
***

O POETA EM CONSTRUÇÃO - Reedição

14.05.23 | Maria João Brito de Sousa

poeta em construção.jpeg

O POETA EM CONSTRUÇÃO
*


I


*
Deixai-o crescer, deixai-o,

que um poeta com talento

faz, do trabalho, argumento

e como qualquer catraio

vê crescer, de Maio a Maio,

compassos que são sustento

do seu corpo em crescimento,

tanta vez sem prévio ensaio

quando a sorte, de soslaio,

lhe dá escória por cimento.
*

II
*

Se persiste, há-de crescer!

Sobre os versos que construa

hão-de brilhar sol e lua

quando um dia alguém o ler,

pois tanto traz pra dizer

que não haverá poder

que se oponha a que se instrua

e da força em que se estua

nunca se há-de arrepender!
*

III
*

Escava a cama da sapata,

bem funda, que a fundação

demanda a força da mão

e a noção mais do que exacta

de que a tua mão contacta

com a mão que amassa o pão

quando assumindo a função

em função de quem contrata

a mão que escava e que acata

o labor da construção,
*

IV
*

Mas ainda à mão que escreve

podes dar a mão sem medos

que também moldam seus dedos,

do que tem, quanto te deve

se a estar contigo se atreve

e, pra ti, não tem segredos,

nem te envolve em vis enredos

que outras tecem quando, em greve,

tua mão bem alto eleve

seu protesto, os teus degredos!
*

V
*

Deixa crescer o poeta,

dá lugar à Poesia,

pois também há mais-valia

numa estrofe quando, erecta,

assume a força concreta

e não esquece a teoria!

Jorna a jorna, dia a dia,

exaltada, ou mais discreta,

burila e escava e completa

o que outra nunca ousaria!
*

 

Maria João Brito de Sousa

04.06.2016 - 19.16h
***

 

 

DÉCIMAS TERAPÊUTICAS - Reedição

13.05.23 | Maria João Brito de Sousa

Décimas Terapêuticas.jpg

DÉCIMAS TERAPÊUTICAS
*


Ó bactéria oportunista,

chiba, traidora de classe,

quem dera que me bastasse

este poema, ó fascista,

pra domar-te eu, activista

da força em que me arrolasse,

mas tens-me em tão estranho impasse

que, suponho, mal trespasse

tua couraça elitista

c`o pouco que em mim resista

de um nada que me sobrasse...
*

Ó desgastante invasora,

pois não vês? Também resisto!

Sou rebelde! Enfim, persisto

em ser por dentro... e por fora!

Tu, pequena ditadora,

nem dás conta de que existo:

infectas-me e... lá vai disto!

Mas eu grito: - Vai-te embora,

ó sem-vergonha, ó traidora

da estrofe em que me conquisto!
*

E, da minha barricada,

ergo a décima em defesa

da vida a que fico presa

por uma coisa de nada...

Luto e embora já cansada

troço até desta tristeza,

sento a Levo* à minha mesa,

torno-me sua aliada

pra que a bruta, alienada,

se encha de tanta incerteza

que possa, essa vil burguesa,

no final, ser derrotada!
*


Julgas ser tão resistente

que a todos possas vencer?

Pois hei-de fazer-te ver

que há quem, sendo persistente,

consiga fazer-te frente

até, por fim, te abater!

Traiçoeira? Podes ser,

mas vê bem!, também sou gente

e não sou nada impotente:

Rosno porque sei morder!
*


Maria João Brito de Sousa

10.05.2016 - 13.39h
***

*Levo - Trata-se do antibiótico que me foi administrada logo no primeiro dia de internamente, após recolhidos os fluídos orgânicos para as culturas bacterianas Levofloxacina.

QUE PODE O VENTO FAZER?

11.05.23 | Maria João Brito de Sousa

eolo ii (1).jpg

QUE PODE O VENTO FAZER?
*

 

Que pode o vento fazer

Para expressar gratidão

Se o seu destino é correr

De alta pra baixa pressão?
*

Às vezes manso, calminho,

Sopra em nós uma frescura

Que traz alívio ao caminho

Quando o calor nos tortura
*

Outras, porém, de rajada,

Sem cuidar do mal que faz,

Leva tudo de abalada,

Não pára pra nos dar paz!
*

Mas... que pode, então, fazer

Para exprimir gratidão

Se nunca faz o que quer

E em si próprio não tem mão?
*

Um dia, sentes-lhe a falta:

Faz calor, ele adormece,

Mas logo se sobressalta

E o pé-de-vento acontece!
*

Roubou roupa ao teu estendal

E chicoteou-te o rosto?

Não terá feito por mal

E muito menos por gosto...
*

É assim por natureza

O vento que só conheces

Porque te abala a certeza

De seres tão só quem pareces...
*

Se assim é, como entender

Dever mostrar gratidão

Algo que nem tem poder

Pra mudar de direcção?
*


Maria João Brito de Sousa

2011
***

PASSADO/PRESENTE/FUTURO

08.05.23 | Maria João Brito de Sousa

presente passado futuro.jpg

PASSADO/PRESENTE/FUTURO
*


Se o futuro a Deus pertence,

A quem pertence o passado

Que é um presente que vence

Ao primeiro passo dado
*


Se ainda que o passo hesite

Tentando permanecer,

Não há deidade que evite

O futuro, o que há-de ser?
*


Assim sendo, recomendo

Que não se exalte o presente,

Esse que passa correndo,

Tão veloz que mal se sente...
*


Por outro lado, não quero,

Nem devo apontar caminhos

Que esse futuro que eu espero

Pode vir cheio de espinhos...
*


Mas se nada nada se conquista

Sem amor e sem vontade,

Estará o futuro à vista

De quem sonha de verdade?
*


Sei que o presente que corre

Em direcção ao futuro

E mal nasce se nos morre

Tal qual centelha no escuro
*


Não fará qualquer sentido

Senão estando coligado

Com quanto já foi vivido

E, neste instante, é passado.
*

 

Mª João Brito de Sousa

08.05.2023 - 13.15h
***