A PRIMEIRA CAMINHADA DO POETA - Reedição
A PRIMEIRA CAMINHADA DO POETA
*
I
*
Percorreu o mundo inteiro
quando este mundo era, ainda,
uma selva agreste, infinda:
Caiu em muito atoleiro,
perdeu pé quando o ribeiro
que atravessava, na vinda
de uma vila amena e linda,
num repente traiçoeiro
transbordou do seu carreiro...
Seu nome andou na berlinda
*
II
*
Resistiu, sobreviveu
a mil coisas que nem sonho,
provou do que é mais medonho,
mas nem assim se rendeu:
Não houve terra, nem céu,
que não sondasse, risonho,
ou, vez por outra, bisonho,
ora juíz, ora réu
de um tribunal* muito seu,
onde agora o pressuponho
*
III
*
E cabe-me a mim, poeta,
transformar em narrativa
esta história presuntiva
mas possível e completa,
verosímil e concreta
para que o poeta a viva
e, numa Barca cativa,
se faça à rota secreta
que seja a sua dilecta,
porquanto imaginativa.
*
IV
*
Aqui dou por terminada
esta primeira Odisseia
de um poeta que se estreia
e que, sendo acidentada,
será dura e muito ousada:
não sei é bonita, ou feia,
sei que ninguém a refreia
mesmo quando ameaçada,
punida ou chantageada
por quem, maldoso, a falseia.
*
Maria João Brito de Sousa
24.09.2016 - 19.28h
***
*alusão à consciência