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http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

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EIS AS MONTANHAS QUE OS RATOS VÃO PARINDO

por muito pequenos que pareçam ser... NOTA - ESTE BLOG JAMAIS SERVIRÁ CAFÉS! ACABO DE DESCOBRIR QUE OS DOWNLOADS SE PAGAM CAROS...

POR TEIMOSIA OU PAIXÃO

28.04.23 | Maria João Brito de Sousa

Por teimosa ou paixão.jpg

MAR - Dissecação de um conceito
*

 

POR TEIMOSIA OU PAIXÃO

*


Por teimosia, ou paixão,

galguei-te, ó mar que me sondas,

à revelia das ondas

e contra a voz da razão...

Vi espólios de mil naufrágios

onde quer que mergulhei

e, onde eu mesma naufraguei

desprezando os maus presságios,

dei com paixões que eram estágios

do que nunca alcançarei

pois nunca sequer sonhei

fazer delas meros plágios

ou me suscitou contágios

quanto ali presenciei:

Em clareiras abissais,

tão profundas, tão escondidas,

nas quais se geraram vidas

que, agora, não vivem mais

pois sob as ondas letais

estão pra sempre adormecidas

e há tanto tempo esquecidas

que não voltarão jamais,

vislumbrei restos mortais

de mil estradas percorridas

E, sem chorar – pois... pra quê? -,

guardei, no fundo do peito,

mais a noção que o conceito

do que, afinal, o mar é:

A todo o que se lhe dê,

tenha ou não tenha defeito,

conserva em funéreo leito

junto à jangada ou galé

em que ousou, com ou sem fé,

cruzá-lo de qualquer jeito...

Por teimosia...- e paixão! -,

ó mar que ousaste sondar-me,

não caio na tentação

de, pra vencer-te, afundar-me!
*

 

Maria João Brito de Sousa

26.04.2015
***

AOS QUE SE ACENDEM NA LUTA

27.04.23 | Maria João Brito de Sousa

tela de Álvaro Cunhal.jpg

AOS QUE SE ACENDEM NA LUTA
*


Aos que se acendem na luta,

Aos que se apagam na fome,

Aos que vão morrendo em nome

De uns reais filhos da puta

Que lhes roubam, da labuta,

Quanto lucro os engordou,

Lá, onde o lucro os cegou

E onde a garra do poder

Que não pára de crescer

Cruamente se fincou
*


Sem que os direitos de um povo

Fossem, sequer, respeitados,

Garantidos, preservados,

Tudo a bem de um “mundo novo”

Que condeno e que reprovo

Na palavra e nas acções

E até nas contradições

A que el` venha a estar sujeito

Pela mão de um burro eleito

E outros tantos aldrabões
*


A todos esses, a quantos

Sem descanso resistirem

Mesmo se um dia caírem

Na fraqueza dos quebrantos

- que são certos e são tantos… -

Mas que nem por isso lentos,

Possam ficar sempre atentos

Sem mudar de direcção,

Sempre opondo a voz do não

Aos subornos truculentos
*


À luta dos companheiros,

Aos que erguem as barricadas

Sem espingardas, nem granadas,

Nesse frente a frente, inteiros,

Que com força de guerreiros

Contra tal barbaridade

Ergam presença e vontade,

Deixo os versos que escrever...

Depois, venha o que vier,

Terei estado entre os primeiros!
*


Maria João Brito de Sousa

18.11.2013 - 21.02h
***

Tela de Álvaro Cunhal
Retirada da página oficial do Partido Comunista Português
***

O TAL VINTE E CINCO

24.04.23 | Maria João Brito de Sousa

o ta vinte e cinco.jpeg

O TAL VINTE E CINCO

*



Aos vinte e cinco foi dia

Quando era de madrugada

E nesse dia a alegria,

Toda a alegria que havia,

Explodiu quando libertada

*



Aos vinte e cinco chorou-se

Pelo motivo contrário

Ao que o estado novo trouxe:

Aos vinte e cinco cantou-se,

Sonhou-se um poder operário!

*



Tantos mil, fomos vontade,

Que num grito, um grito só,

Saudámos a liberdade,

Todos em pé de igualdade

E a pisar o mesmo pó

*



No pó de todas as ruas

Metro a metro percorridas

Por chaimites, por charruas...

E sonhei, ou vi faluas

Trocar mar por avenidas?

*



Aos vinte e cinco sonhámos,

Aos vinte e cinco sentimos

O sabor do que criámos

E desse dia guardámos

O que hoje não permitimos

*



Depois? Depois aprendemos,

Porque, pouquinho a pouquinho,

Percebemos que o que temos

São sobras do que fazemos

Ninguém, porém, está sozinho

*



Por isso é que é sempre urgente

Lutar mais, com mais afinco,

Sem deixar de ter presente

Que há sempre quem rosne à gente

Que fez o tal vinte e cinco!

*



Maria João Brito de Sousa 

23.04.2018 – 09.46h

***

 

"NO SILÊNCIO DE UM OLHAR"

22.04.23 | Maria João Brito de Sousa

no sil~encio de um olhar.jpg

"NO SILÊNCIO DE UM OLHAR"
*


"No silêncio de um olhar"

Já escutei, quando passava

Por alguém, bem devagar

Gritos da dor de uma escrava
*


E vi as mãos de quem escava

"No silêncio de um olhar"

A terra que desabava

Sobre alguém a sufocar
*


Na galeria sem ar

Da mina em que trabalhava

"No silêncio de um olhar"

Que, afinal, também gritava
*


Vi coisas que nem pensava

Que ali pudesse encontrar:

Há vulcões cuspindo lava

"No silêncio de um olhar"!
*


Mª João Brito de Sousa

22.04.2023 - 12.50h
***

 

Poemeto criado a partir de um verso/mote de MEA (Maria da Encarnação Alexandre) para uma rubrica do Horizontes da Poesia.

"TENHO UM DESEJO COMIGO"

17.04.23 | Maria João Brito de Sousa

Tenho um desejo comigo - Paz.jpg

"TENHO UM DESEJO COMIGO"
*


"Tenho um desejo comigo",

Tu, contigo, um outro trazes,

Mas, ao meu, sempre o bendigo

Por aos mais achar capazes
*


De se tornarem audazes...

"Tenho um desejo comigo"

Que não é desses fugazes

Porque é justo, muito antigo
*


E não treme face ao p`rigo

De ouvir palavras mordazes

"Tenho um desejo comigo"

Que deixo impresso em cartazes
*


E que assim, transcrito em frases,

Expõe este anseio que abrigo

De, entre irmãos, fazer as pazes:

"Tenho um desejo comigo"!
*


Mª João Brito de Sousa

16.04.2023 - 00.05h
***

Poemeto criado a partir do verso/mote de Maria José Reis para uma rubrica de quadras com mote no Horizontes da Poesia

 

POEMETOS E SONETILHOS COM VÁLVULA DE ESCAPE - Silicone

13.04.23 | Maria João Brito de Sousa

panela de pressão (1).jpg

POEMETOS E SONETILHOS COM VÁLVULA DE ESCAPE

*

SILICONE
*


No instante em que um poema

se vista de silicone,

que a Musa não me abandone

e que a minha mão não trema
*


Para que enfrente o dilema

talvez numa noite insone

em que Morfeu não ressone

e eu esteja atenta ao fonema
*


Mas se o reino do silício

me impuser maior suplício

do que este de que vos falo
*


Só poderá ser batota!

Não alinho na chacota,

antes lhe aperto o gargalo!
*

 

Mª João Brito de Sousa

12.04.2023 - 22.30h
***

ANDORINHAS

09.04.23 | Maria João Brito de Sousa

andorinhas.jpg

ANDORINHAS
*

 

Vi-as no céu. Eram três,

Lindas, lindas de pasmar...

Vi-as no céu ou talvez

As tenha visto a sonhar...
*

 

Vi-as no alto. Eram poucas

Em rodopios infindáveis,

Em mil revoadas loucas

E volteios impensáveis...
*

 

Vi-as hoje, agora mesmo,

Sob um céu azul intenso

Que algumas nuvens, a esmo,

Tornavam opaco e denso...
*

 

Virá chuva? Não virá?

As andorinhas volteiam...

Sabe-se lá quem lhes dá

As certezas que as norteiam...
*

 

Depois rumarão a Sul

Ao sabor do seu destino

Buscando um céu mais azul

E um calor mais genuíno...
*

 

Vi-as mesmo há bocadinho,

Quando, sentada no muro,

Pedia, muito baixinho,

Ao mundo um mundo mais puro.
*

 

Mª João Brito de Sousa

2009
***

" PÁSCOA É RENOVAÇÃO"

08.04.23 | Maria João Brito de Sousa

Vieira da silva.jpg

Tela de Maria Helena Vieira da Silva

*

 

"PÁSCOA É RENOVAÇÃO"
*


"Páscoa é renovação",

Bonança após tempestade,

Luz depois da escuridão

Que sempre oculta a Verdade,
*


Essa que se nos evade...

"Páscoa é renovação",

Momento de liberdade

Num tempo em contradição
*


Com a plena fruição

Da humana identidade

"Páscoa é renovação"

Da nossa (in)satisfação
*


Perante a desigualdade,

Pois se irmão oprime irmão,

Que é da tal Fraternidade?

"Páscoa é renovação"...
*

 

Mª João Brito de Sousa

08.04.2023 - 13.50h
***

 

Poemeto em quadras com mote descendente concebido a partir de um verso/mote de Joaquim Sustelo para uma rubrica do Horizontes da Poesia

POETANDO... - Reedição

06.04.23 | Maria João Brito de Sousa

eu com a paloma ao colo - 3 anos.jpg

POETANDO...
*

Lembro que um patinador

Patina, não faz patins,

Nem outras coisas afins,

E que qualquer bom escritor

Escreva, ou não, regularmente,

Não "escritura", escreve mesmo,

Ainda que o faça a esmo,

Escreverá concretamente,

Portanto lá vai escrevendo

Seja verso ou seja prosa

E ainda que abrace a glosa

Também escritor estará sendo,

Pese a tal dificuldade

Com que o mesmo se confronta

Nessa acção, quando não conta

Com alguma ambiguidade...
*


Quem medica não “virou”

Fábrica ou laboratório!

De hospital ou consultório,

Pra ser médico estudou
*


Farmacêutico estudando,

Não quer farmácias erguer:

Muito terá que aprender,

Mas não está "farmaticando"
*

 

O bom produtor, produz,

Não "produta", de certeza,

Tudo quanto chega à mesa

De um condutor... que conduz

Talvez algum camião

Que na estrada vá rodando,

Mas nunca"camionetando"...

Eis outra complicação!
*


Remador, não faz "reminhos",

Faz dos remos profissão!

Remando exerce a função

De no mar varar caminhos...
*


Arquitecto faz projectos,

Mas não passa a "projector"

Por exercer tal labor

Nos seus diversos aspectos...

No entanto, é projectando

Que irá pela vida fora:

Projecta enquanto elabora

O que vai arquitectando...
*


E porque é que o espectador

De um qualquer filme que passe,

Se sente tal qual espetasse

Quando passa a "espetador"?,

Ou o que impede um poeta

De ir por aí POETANDO

Os versos que for criando

Se um poema é sempre a meta?
*


Se sou poeta, poeto,

Não "poemo", não senhor,

(embora pouco valor

tenha quem escreve em directo)

E ao poetar não me assumo

Grávida de poetinhas,

Só afirmo serem minhas

As escolhas. Meu, o rumo!
*

 

Maria João Brito de Sousa

07.09.2017 – 11.26h
***

PESCARIA(S) Reedição

04.04.23 | Maria João Brito de Sousa

PESCARIA.jpg

PESCARIA(S)
*

I

Lanço a fateixa. A jangada

Estremece e fica parada

No meu mar de beira rio

E à rede, já remendada,

Lanço-a à água... é tudo ou nada,

Que trago o bote vazio:

Venha atum, raia ou safio,

Quando a malha for puxada

E outro mar de água salgada

Dela escorrer, fio a fio!
*

II


Mas se entre as malhas da rede

Não há peixes de verdade

E eu cometo a veleidade

De usá-los como quem cede

À distância que se mede

Entre mentira e verdade

Quando o poema me invade,

Que sede dessoutra sede

Que a minha sede precede,

Traz e leva, a quem nem pede,

Frutos de um mar que é de jade?
*

III

Cordas que apenas invento

Tecem-me as malhas da vida

E foi-me a Barca erigida

Num mar que eu mesma sustento...

Meus remos? Sopros de vento

À espera do que eu decida:

Se quero a fateixa erguida

Sobre um mar tão turbulento,

Ou se aguardo mais um tempo

E lanço a rede em seguida...
*

IV

Pra que banquete, afinal,

Nos convida este poema

Cuja autora faz que rema

No mar do seu próprio sal?

Em que jangada irreal

Singra as ondas do fonema?

Quem lhe diz que vale a pena

E jura não ser por mal

Que estende no areal

Uma ilusão pura e plena?
*

V

Parábola, alegoria,

Mas não mera brincadeira,

Pois não é coisa ligeira

Tecer-se uma fantasia

Que, mais dia, menos dia,

Se há-de tornar verdadeira

Já que sempre achou maneira

De dar vida à pescaria:

Mais pesca quem mais porfia

E esta porfia-se inteira!
*


Maria João Brito de Sousa

02.04.2018 – 19.52h
***

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