Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

EIS AS MONTANHAS QUE OS RATOS VÃO PARINDO

por muito pequenos que pareçam ser... NOTA - ESTE BLOG JAMAIS SERVIRÁ CAFÉS! ACABO DE DESCOBRIR QUE OS DOWNLOADS SE PAGAM CAROS...

EU, LUGAR ERMO E SELVAGEM

26.03.23 | Maria João Brito de Sousa

charneca alentejana - silva porto.jpg

Charneca Alentejana - Tela de Silva Porto

 

EU, LUGAR ERMO E SELVAGEM
*
(Décimas)

 

Juro ser, as mais das vezes,

Um lugar ermo e selvagem!

Aos olhos, serei paisagem,

Fruto de uns milhões de meses

Que, alheios a tais revezes,

Vão sendo postos à margem

Por quem presta vassalagem

À ganância dos burgueses

E esconde, em gestos cortezes,

Os crimes de alta linhagem...
*

 

Pardela, sapo-parteiro,

Anguinha, abelha, formiga,

Folha rasteira de urtiga

Rompendo um chão derradeiro

Dia-a-dia, a tempo inteiro,

Cumprindo a tal força antiga,

Cantando, eterna, a cantiga

Que, desde o dia primeiro,

Transmuta mato rasteiro

Em tão fecunda barriga...
*


Selvagem, sim! Porque não?

Tanto assusta o que, liberto,

Floresça de modo incerto,

Sem que um humano padrão

Esmague o fruto desse chão

Até torná-lo deserto

Pra somar-lhe o desconcerto

De uns muros de aço e betão?

E, nestoutra dimensão,

Eu, tão distante e tão perto...
*

 


MariaJoão Brito de Sousa

24.03.2015 – 00.14h
***

 

PRIMAVERA

24.03.23 | Maria João Brito de Sousa

Clarinha - por mim pintado aos 10 anos, quando nasceu a minha irmã (1).jpg

PRIMAVERA
*


Se magoada, vira fera,

Fera indefesa, acossada,

Fera que apenas pondera

Na defesa, se atacada,

Mas que aguarda a Primavera
*


A Primavera que espera

Lhe devolva a voz roubada

Pelo frio que a envolvera

E que transformara em nada

Quanta alegria nos dera.
*


Mª João Brito de Sousa

22.03.2023 - 12.55h
***

Imagem - Aguarela de minha autoria, pintada quando a minha irmã Clara nasceu, tinha eu dez anos.

Descansa em paz, Clarinha.

HISTORIETA SACRO-PROFANA

18.03.23 | Maria João Brito de Sousa

historieta (1).jpeg

HISTORIETA SACRO-PROFANA
*

 

Asso a maçã do pecado,

ficam-me as culpas queimadas,

que às maçãs, quando bispadas,

toda a gente as põe de lado...

Não seria, Adão, tentado

a provar maçãs sagradas

caso as visse assim estragadas

depois de Eva as ter assado

tanto e tão demasiado

que ficassem esturricadas
*

II

 

Ou mesmo carbonizadas,

parecendo terem brotado

de algum incêndio ateado

por mãos cruéis e zangadas...

Porém, mil luas passadas

sobre Adão, que foi levado

a trincar o seu bocado,

as Evas, já desculpadas,

compram maçãs nas bancadas

de qualquer supermercado.
*

 

Maria João Brito de Sousa

19.10.2018 – 17.32h
***

(reeditado  e reformulado)

MEDIDO EM ESPAÇO NENHUM

17.03.23 | Maria João Brito de Sousa

SINFONIA SOL LUA COM REMENDO VERDE.jpeg

MEDIDO EM ESPAÇO NENHUM
*

Às vezes sobramos nós,

(De entre os loucos, os mais loucos)

Nós que nunca estamos sós

Apesar de sermos poucos
*

Outras vezes, já cansados,

Fingimos que retiramos,

Amargos, desencantados,

Dos lugares aonde vamos
*

Mas ficamos por ali,

Nesse espaço do vislumbre

Onde desses que mal vi

Nunca a memória sucumbe…
*

Dos que vi, permaneceu,

Neste espaço da memória,

Um afecto que cresceu

Como se fosse uma história
*

Das palavras que disseram,

Das ideias em comum,

Do que partilhando deram

Medido em espaço nenhum.
*

 

Mª João Brito de Sousa

21.02.2009
***

COM DEFEITO DE FABRICO

15.03.23 | Maria João Brito de Sousa

Maria João (1) (1).jpg

COM DEFEITO DE FABRICO
*

 

Sou bicho mal acabado

Com defeito de fabrico...

Muito me esforço e me estico

Pr`aguentar, deste legado,

O estrago e o peso pesado

Que contudo não critico:

Estou neste “fico, não fico”

Que me vem desde um passado

Há muito tempo traçado

Por um gene mafarrico...
*


Ponta abaixo, ponta acima,

Feita em cima do joelho,

Tudo em mim está gasto e velho,

Não sou nenhuma obra-prima

E se sou forte na rima

No demais... não me aconselho!

No entanto, é bem vermelho

O coração que me anima

E, batendo, me sublima...

Desde que não me olhe ao espelho!
*


Porque se ao espelho me olhasse

E ao meu reflexo imperfeito

Guardasse dentro do peito,

Talvez de mim não gostasse

E um reflexo me bastasse

Pra não ver senão defeito

Quando tendo afinal jeito,

Não deixo que o tempo passe

Sem opor-me ao desenlace

Com mais um verso escorreito.
*

 

Maria João Brito de Sousa

14.03.2018 – 11.02h
***

 

"HÁ TANTA GENTE ILUDIDA"

12.03.23 | Maria João Brito de Sousa

Little_Boy+Fat_Man.jpeg

"HÁ TANTA GENTE ILUDIDA"
*


"Há tanta gente iludida"

E é tão vasta essa ilusão

Que não lhe encontro medida,

Nem lhe sei meter travão...
*


Soa e reboa o refrão:

"Há tanta gente iludida"

Pela comunicação

Que escconde que está vendida,
*


De corpo e alma rendida

Aos da manipulação...

"Há tanta gente iludida",

Quão pouca usando a razão
*


E se há coisa sem perdão

É atraiçoar-se a vida

Até levá-la à extinção:

"Há tanta gente iludida"!
*

 

Mª João Brito de Sousa

11.03.2023 - 12.40h
***

 

Poemeto criado para uma rubrica do Horizontes da Poesia a partir de um verso/mote de Albertino Galvão

DIAGNÓSTICO (de rede) POSSÍVEL - Reedição

11.03.23 | Maria João Brito de Sousa

otomana.jpg


DIAGNÓSTICO (de rede) POSSÍVEL
*


Por tudo e nada me cai

Esta instável ligação

Que nunca sei quando vai

Deixar-me a escrever… à mão!
*

Já estou gasta de a afinar,

Cansada de a ver cair,

Quase em fúria de a ligar

E à beira de desistir…
*


Não sei de asma padece,

Nem se sofre de enxaquecas

Pois com tantas camoecas,

Tantas Cecas, tantas Mecas,

Nem sabê-lo me esclarece!

Pode ser coisa bicuda,

Caso raro e nunca visto,

Mas, sendo teimosa, insisto

E, nada entendendo disto,

Preciso de quem me acuda

Ou então fico apeada

Nesta luta desigual

Sem poder levar-lhe a mal

Porque a coisa é virtual

E eu posso até estar errada

No diagnóstico final

Ou prescrever-lhe pomada

Que lhe não sirva pra nada

E que a deixe tão prostrada

Que "vire" um caso fatal…
*

Por tudo e nada se esfuma

Esta com que acedo à “rede”

E eu, à espera que se assuma,

Dou-lhe tudo o que ela pede:
*

Dei-lhe xarope prá tosse,

Auscultei-a várias vezes,

Perscrutei-lhe urina e fezes,

Mediquei-a pra três meses

E esperei que ela se fosse,

Mas o raio da magana

Nem assim se aquietou,

Que ainda mais se queixou

E, no final, vomitou:
*


Um pingente em filigrana,

Uma poltrona otomana,

Um telhado de choupana,

Cinco telas de Picasso,

Um psiché vitoriano,

Uma espingarda sem cano,

Duas bonecas de pano

E um esfregão de palha de aço!!!
*

 


Maria João Brito de Sousa

07.12.2012 – 15.03h
***

palha de aço (1).jpg

VERÃO - Joaquim Sustelo e eu - Reedição

10.03.23 | Maria João Brito de Sousa

verão.jpg

VERÃO
*

 

O verão, estação mais quente,
Despediu a primavera.
Já se estava dele à espera
Eis que surge, sorridente!
Ninguém fica indiferente
Aos campos, praias e mar
Com espaços a abarrotar,
De carros e de pessoas!
O verão de coisas boas
Que o outono há de levar...
*

 

Joaquim Sustelo

*

 

Décimas Glosadas
*

I

 

Calor? Não me mete medo,

Nem me faz ficar doente

Como o frio que, de repente,

Desde manhãzinha cedo

Me enregela - que degredo... -

Inda além do Sol poente!

Prefiro este Sol ardente,

Disso não farei segredo

Se invoco - porque antecedo... -

"O Verão, estação mais quente"!
*

 

II

 

Menos dor, mais liberdade,

Menos roupa, mais quimera...

Ai, afinal, quem me dera

Que, tal qual minha vontade,

Eu, com mais mobilidade,

Corresse que nem pantera

Quando um pé por outro espera

Uma quase eternidade...

O Verão porém, na verdade,

"Despediu a Primavera"
*

III

 

Veio estrear-se em beleza

Sob um sol que é rubra esfera

E todo em brilhos se esmera

Neste céu côr de turquesa,

Tal qual chama muito acesa

Que, num crescendo, pondera

Gerar seca bem severa,

Tal a sua natureza...

Mas não digam que é surpresa,

"Já se estava dele à espera"
*

IV

 

Não parece, por enquanto,

Mas quem seja previdente

Sabe que um Verão muito quente

Pode perder o encanto

E acender-se em chamas, tanto,

Que uma floresta inocente

Arda e fique incandescente

Perdendo o seu verde manto

Neste V`rão que, no entanto,

"Eis que surge sorridente!"
*

 

V

 

Sempre que arda uma floresta,

Perde toda, toda a gente...

Numa vila, mesmo em frente,

- lugar de gente modesta... -

Há sempre alguém que se apresta

A apagar a chama ardente

Pois, tanta vez impotente

Face a essa imensa besta,

Vendo o próprio inferno em festa,

"Ninguém fica indiferente",

*

 

VI

 

Por outro lado, consola

Ver o V`rão a despontar,

Com crianças a brincar

- porque já não têm escola...-,

Umas a jogar à bola,

Outras na praia a nadar

Sem terem de carregar

A sempiterna sacola

Pois não vão tinta, nem cola,

"Aos campos, praias e mar"...

*

VII

 

Faz-se a festa no campismo,

Pois sempre há-de haver lugar

Pr`a se poder acampar

- outra forma de turismo,

bem contrária ao comodismo

de nalgum hotel ficar... -

Numa mata, ou junto ao mar,

Conforme o dite o lirismo

Contra o duro fatalismo

"De espaços a abarrotar"...

*

 

VIII

 

 

Pois há quem nunca desista,

Nem pare de tecer loas,

Não a barcos e canoas,

Mas ao "espírito campista"

E ao campismo vanguardista

Que - juram! - são coisas boas,

Mas que - sei que me perdoas

Pois não sou malabarista... -

Mais parece imensa pista

"De carros e de pessoas!"

*

 

IX

 

Na minha casa - meu espaço... -,

Por mais que tu te condoas

Podem-me ir faltando c`roas*,

Ir-me sobrando o cansaço,

Mas é daqui que eu te traço

Poemas - nem sempre loas... -

Pra ti, pra mais mil pessoas

Que cuidem disto que faço

E encontrem, no seu regaço,

"O Verão de coisas boas"

*

 

X

 

Tudo, porém, tem seu fim

Neste mundo milenar

Que é mera esfera a girar

Sem esperar por ti, por mim,

Ou por quem nem pense assim...

Amigo, é de aproveitar

Pois não veio pra ficar

E o V`rão, neste jardim,

É tal qual como um jasmim

"Que o Outono há-de levar..."

*

 

Maria João Brito de Sousa

21.06.2016 - 16.59h

*

In Antologia Horizontes da Poesia VIII, Euedito, 2016

***

 

 

 

 

DUAS DÉCIMAS À MATERNIDADE - Reedição

08.03.23 | Maria João Brito de Sousa

Madona do Silêncio - Débora Arango (1).jpg

"Madona do Silêncio" - Débora Arango

*

DUAS DÉCIMAS À MATERNIDADE
*


Inda o seu corpo sangrava

já, firme, a mulher se erguia

e soerguida paria

o filho que ao mundo dava!

Num pano velho enrolava

o corpito que dormia

e cheia, embora vazia,

no seio tenso pegava

e à boquita lhe acercava

o colostro que escorria
*


Do parto em dura agonia

nem memória lhe restava,

que assim que o filho mamava

logo em forças redobrava

e assim se transfigurava

toda ela infinda alegria

que de um nada de energia

crescendo se agigantava

prá vida que alimentava

do filho que alvorecia.
*


Maria João Brito de Sousa

01.06.2016 - 15.23h
***

cravo vermelho.jpg

PERFIL DE MULHER - Reedição

07.03.23 | Maria João Brito de Sousa

Na esplanada, com um gato (1).jpeg

PERFIL DE MULHER
*


Percorro o mesmo caminho

Que um outro humano qualquer

(tem meu céu forma de ninho

tal qual um ventre a crescer…)
*

 

Quando o dia se aproxima

Ergo, à luz do que farei,

Um templo à estranha menina

Que fui, que sempre serei…
*

 

Canto as horas e os minutos

Em palavras que improviso

Como se fossem os frutos

Com que alimento o meu riso
*

 

Salto na corda dos dias

E, ao saltar, fico parada

Rememorando arrelias

De quem nunca arriscou nada
*

 

Nuns dias de barro humano,

Noutros feita de papel,

Fiz nascer asas de pano

No dorso do meu corcel
*

 

Quis então soltá-lo ao vento:

Nem sequer tentou partir

Mas deu-me em troca um talento

Que ninguém queria assumir…
*

 

Mais tarde, quando morreu,

Peguei nas asas, voei,

Quis levar quanto era seu

Ao céu que nunca encontrei
*

 

Procurei com mais jeitinho

E acabei por perceber

Que o céu cabia, inteirinho,

No meu perfil de mulher.
*

 

Maria João Brito de Sousa

27.04.2011 – 18.21h
***

Pág. 1/2