A MÃO QUE ALIMENTA A GUERRA
*

A mão que alimenta a guerra

Por infindas mãos composta

Pode até entender que erra

Mas jamais perde uma aposta
*

Assim que os ferros desferra

- que essa mão de errar não gosta-,

Fere por ar, mar e terra

Com ou sem linha de costa
*

Mal a espiral descendente

Comece a delinear-se,

Temos guerra, minha gente,
*

Muito embora se disfarce

Cada gesto que a alimente

De inocência. Ou de catarse.
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Mª João Brito de Sousa

31.07.2022 - 16.20h
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"IRÁS COMIGO ONDE EU FOR"
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"Irás comigo onde eu for",

Disse-me um dia a vontade

E eu, sentindo-lhe o ardor,

Julguei que isso era verdade
*

Intimei a liberdade:

"Irás comigo onde eu for"!,

Mas depressa a realidade

A ela se veio impor
*

Apresentando-me a dor

Que fustiga a humanidade:

"Irás comigo onde eu for"

Exp`rimentar necessidade,
*

Conhecer a insanidade,

Provar-lhe o acre sabor...

Eu sou a arbitrariedade:

"Irás comigo onde eu for"!
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Mª João Brito de Sousa

30.07.2022 - 12.00h
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Poemeto criado a partir de um verso/mote de Joaquim Sustelo para uma rubrica do Horizontes da Poesia.

PESQUISA
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Nasce a dúvida. A pesquisa

Sempre responde, ou desliza

Para alguma ambiguidade,

Para uma meia verdade

Que nem tudo concretiza?
*

Possa a força da vontade

Que move a humanidade

Passar por essa pesquisa

Sem pressas, como uma brisa

Quando sopra em liberdade.
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Mª João Brito de Sousa

24.07.2022 - 12.00h
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Imagem - Fotografia do meu pai no seu escritório da casa da rua Luís de Camões, 1954

"NÃO HÁ HORIZONTE À VISTA"
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I
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"Não há horizonte à vista"

Dentro de casa fechada:

Não se vislumbra uma pista

Dessa linha imaginada...
*

II
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Da janela embaciada

"Não há horizonte à vista"

E fica a gente intrigada

A duvidar que ele exista
*

III
*
Embora ninguém resista

A projectá-la, qual estrada,

"Não há horizonte à vista"

Não há vista, não há nada,
*

IV
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Que o horizonte de cada

É qual onda cuja crista

Se imobiliza espantada:

"Não há horizonte à vista"!?
*

Mª João Brito de Sousa

23.07.2022 - 09.50h
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Poemeto em quadras criado a partir de um verso/mote de MEA para uma rubrica de quadras subordinadas a mote no Horizontes da Poesia.

A PALAVRA POBREZINHO
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A palavra "pobrezinho"

Causa-me asco, desconforto

E deixa-me em ponto-morto

A meio de um (des)caminho,
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Sem pão, sem água e sem vinho,

Sem referências, nem porto,

Que se ao pobre o "zinho" corto,

Falto ao respeito ao vizinho...
*

No entanto, esta repulsa

Nunca é dirigida a Aleixo

Que a Mestre de alma convulsa
*

Tudo aceito e nem me queixo...

Mas se dignidade a expulsa

Também eu de lado a deixo!
*

Mª João Brito de Sousa

14.07.2022
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UMA ILUSÃO DE FRESCURA
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- Venha um pouco de frescura!,

Pediu-me, ontem, um amigo

E eu lancei-me na aventura

De inventar-lhe um fresco abrigo
*

Que, estando em plena clausura,

Não trazia, então, comigo...

Sou, porém, mulher madura,

De engendrar não me fatigo
*

E assim o fiz: num repente

Pus o sol incandescente

Atrás de um manto de bruma
*

Que aqui esbocei. Por que não?

Tão inocente ilusão

Não desdiz verdade alguma...
*

Mª João Brito de Sousa

18.07.2022 - 17.00h
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Ao poeta amigo Francisco Carita Mata

PROCURO?
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Não procuro nenhum tema:

Aguardo que um pensamento,

Mais manso ou mais turbulento,

Surja em forma de poema,

Qual rabanada de vento
*

Sinto e escrevo, ou sinto e tento

Poetar sobre um problema

Fazendo uso do fonema

E também de algum talento

Que não procuro: El` me acena...
*

Mª João Brito de Sousa

17.07.2022 - 12.30h
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Imagem - "À Janela" - Paula Rego

Quintilhas criadas a partir da palavra "procuro" para uma rubrica do Horizontes da Poesia.

"CIDADES NÃO POLUÍDAS"
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"Cidades não poluídas"

E homens com fome, a morrer?

Dois pesos, duas medidas

E um paradoxo, até ver...
*

Quem polui está no poder:

"Cidades não poluídas"

Onde obreiro não couber,

São só visões distorcidas
*

E versões (des)construídas

Do que deveria ser:

"Cidades não poluídas"

Pra breve? Não posso crer,
*

Nem consigo conceber

Que alguns, que desprezam vidas,

Queiram criar e manter

"Cidades não poluídas".
*

Mª João Brito de Sousa

15.07.2022 - 19.00h
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Poemeto criado a partir de um verso/mote de Joaquim Sustelo para uma rubrica de quadras com mote no Horizontes da Poesia.

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Tela de Pablo Picasso

LOUCURA
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Perdida alguma loucura,

Foi-se toda a sensatez:

Não escrevo nem há leitura

Que me tente, há quase um mês...

Nego o meu fado burguês
*

Porque conheço os porquês

Da insana conjuntura

Que me assaltou desta vez,

Depois do "router", sem cura,

Se ter rendido à loucura...
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Mª João Brito de Sousa

12.07.2022 - 14.30h
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Tela de Paula Rego

"CUIDADO COM O CALOR"
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"Cuidado com o calor"!

Porque ao perder sódio e cloro

Caso dê para o pior

Ficas internado, a soro...
*

Diz-te meio mundo, em coro,

"Cuidado com o calor"!

E eu que os verões adoro

Também me junto ao clamor
*

Quando, alagada em suor,

Já nem sei se suo ou choro:

"Cuidado com o calor",

Aconselho e quase imploro...
*

Ele há coisas que deploro

E abomino o torpor

Que acompanha um suadouro:

"Cuidado com o calor"!
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Mª João Brito de Sousa

12.07.2022
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Poemeto criado a partir de um verso/mote de Custódio Montes para uma rubrica do Horizontes da Poesia.