PONTO DE PARTIDA
PONTO DE PARTIDA
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MUSA
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Vou partir que estou cansada
De trabalhar sol a sol;
De versos deixo-te um rol,
Não te posso dar mais nada!
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POETA
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Vai então! Bem comprendo
Que trabalhaste demais,
Mas volta depressa ao cais
Não vá o verso ir morrendo...
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MUSA
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Poeta, os versos não morrem
Por mais cansados que estejam;
Quando não correm, gotejam
Sobre as gentes que discorrem
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Lendo as mensagens que trazem,
Vendo as roupagens que os cobrem;
Não há maleitas que os dobrem,
Nem há bombas que os arrasem!
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POETA
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Tens razão; não contradigo
Nada do que aqui disseste,
Mas aos versos que me deste
Não os guardarei comigo,
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Antes os deito a voar
Neste oceano sem fronteiras
Pra que as aves costeiras
Os possam vir debicar.
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MUSA
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Faz do verso o que tu queiras...
Bem sabes que hei-de voltar
Pra contigo arrotear
Esse chão de sementeiras.
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Estás doente, não perdida;
Espero pacientemente
E, ao ver-te menos doente,
Volto ao ponto de partida.
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Maria João Brito de Sousa - 29.10.2020 - 15.00h
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(Por hoje, mais não consegui do que este ficcionado diálogo entre mim e a Musa)