APERTO(S)
APERTO(S)
*
Se já não sei quem sou eu
porque tudo em mim mudou,
sei que algo de meu ficou
do tanto que se perdeu
quando o corpo que era o meu
por minutos vacilou,
partiu, perdeu-se e voltou
da amarga volta que deu
por essa noite de breu
que não quis, que rejeitou.
*
Ainda viva, mas pouco,
sem força, garra e paixão,
preservei um coração
proibido de ser louco,
um coração cego e mouco
que em tempos fora um vulcão
e agora cumpre a função
tímido, instável e rouco...
Ah, coração taralhouco,
frágil, medroso e poltrão!
*
Pulsas ainda, é bem certo,
mas quão frágil me deixaste!
Não és coração que baste
pra quem viva em desconcerto,
vigil, atento, liberto,
sem recear o desgaste
daquilo que sustentaste
e que ignorava este aperto,
mantendo-te a descoberto
na voz que agora calaste.
*
Maria João Brito de Sousa – 30.03.2019 – 11.23h