TALVEZ UM FADO
TALVEZ UM FADO
*
(Memórias de minha mãe, subindo a escada)
I
Oiço um longínquo rumor
De passadas vagarosas
Muito embora, pressurosas,
Se aproximem, dor a dor,
De mim, que as já sei de cor,
De mim, que as sei dolorosas.
II
São passadas muito antigas
Que me ecoam na memória
Sem derrota, nem vitória,
Compondo estranhas cantigas
Sempre que, ó tempo, me instigas
A recontar-lhes a história.
III
São refrão. Sempre o refrão
De um esforço recompensado
Fazendo de um passo dado
Mais uma repetição
Da mesma eterna canção
Que talvez se chame fado.
*
Maria João Brito de Sousa – 05.01.2019 – 16.01h