ADEUS, 2018!
ADEUS, 2018!
*
Num relógio que não tenho,
Tica-taca, os dois ponteiros
Vão avançando certeiros
Até que surja um desenho
Singular, mas nada estranho,
No qual ambos os roteiros
Convergem, ficando inteiros,
Como se iguais de tamanho.
*
Só por sessenta segundos
E duas vezes por dia
Um relógio contraria
Dogmas velhos e profundos,
Nascendo o melhor dos mundos
Da aparente apostasia
Em que esse instante os recria;
Dois num só, fortes, fecundos...
Depois retornam, rotundos,
Ao que antes os dividia.
*
Irmãos, erguei-vos e vinde!
São só doze badaladas
E doze passas tragadas
Antes de que o som se finde;
Nada há que se deslinde
Nessas taças levantadas,
Nos beijos, nas gargalhadas
Sem acanho, nem melindre,
Mas é tão humano, o brinde,
Quão festivas, as noitadas...
*
E os ponteiros – tica-taca -
Começando a aproximar-se
Dão início à tal catarse
Que a quase todos se atraca
Fortemente, como lapa
Que não queira desgrudar-se
E que faça por firmar-se
Quando um predador a ataca...
Os ponteiros, à socapa,
Estão mais perto de juntar-se.
*
Não fiz ainda a sangria
Com que ao ano brindarei...
Depois a prepararei!
Hoje aproveito a folia
Junto da Musa vadia
Que, por acaso, encontrei
A comer, do bolo-rei,
A penúltima fatia...
Farta está, já não vazia,
Mas muito enfartada a achei.
*
Tica-taca... olha os ponteiros,
Velha Musa esfomeada!
Vê se não comes mais nada
Até que esses dois sineiros
Façam soar, pioneiros,
A primeira badalada!
Não quero a noite estragada
Por teus gostos traiçoeiros
E dois bolos-rei inteiros
Vão deixar-te agoniada!
*
Tica-taca... ainda é cedo?
Dois ponteiros bem distantes
Solicitam-me uns instantes
Que eu de bom grado concedo.
*
Maria João Brito de Sousa – 31.12.2018 – 19.07h