"ÃOS" & "ADES"
“ÃOS” & “ADES”
*
(Décimas)
I
Basta de toxicidade!
Tanta desinformação
Só nos traz é confusão...
Por onde passa a verdade
Se a verdade é que se evade,
Aos poucos, da nossa mão?
Vejo é manipulação
Da nossa humana vontade...
Nada há que menos me agrade
Do que toda esta inversão
II
Dos preceitos da razão
E da nossa idoneidade.
Onde estás, ó liberdade
De julgamento e de acção
Se sujeita à suspeição
E às grilhetas da saudade,
Só recordas falsidade
E a falta de isenção?
No olho do furacão
Da devassidão de Sade?
III
Venha mais honestidade
Pôr cobro a tal maldição!
Sem saber se sim, se não,
Sem raízes, nem idade,
Não vem o campo à cidade,
Nem a cidade tem chão
Onde se estenda um colchão
Pra morrer com dignidade;
Mora a pura ansiedade
Neste espaço em convulsão
IV
Onde mesmo a diversão
Perde a sua alacridade
E conduz a sociedade
À grande alienação,
Já que irmão agride irmão
Sem causa, nem piedade,
Com toda a brutalidade
E sem grande hesitação.
“Sempre assim foi”, pensa então
Quem assiste à mortandade
V
Com a naturalidade
De quem canta uma canção,
Ou compra uma promoção
Barata e sem qualidade
Por bem menos de metade
Do custo de produção...
Haverá comparação,
Ou será que a realidade
Preza a conflitualidade
E nos nega uma outra opção?
VI
Não mudo de direcção
Que esta minha sobriedade
Não sente a necessidade
De, pra já, meter travão...
Vejo mal, mas a questão
Não está na visibilidade
E sim na capacidade
De, dessa limitação,
Ter a perfeita noção,
Actuando em conformidade;
VII
Assim, perco em quantidade
O que ganho em devoção,
Mas a minha obrigação
É manter serenidade
E alguma objectividade
Enquanto cumpro a função
E renego a tentação
Da frustração que me invade
Quando, em plena claridade,
Vejo o breu da escuridão
VIII
Sem encontrar explicação
Pra tanta desigualdade...
Palpo ainda a densidade,
Mas não palpo a pulsação
De quem diz ter compaixão
Por esta comunidade
Que eu, há uma eternidade,
Amo, torrão a torrão,
Palmo a palmo, grão a grão,
Com toda a sinceridade
IX
Serei, talvez, raridade,
Ou apenas a excepção
Que leva à confirmação
De uma generalidade...
Sou-o de livre vontade,
Jamais por imposição,
Pois todo o meu coração
É um hino à liberdade;
Toda sou genuinidade
E, às vezes, contradição,
X
Mas quer tenha, ou não, razão
Dar-lhe-ei continuidade;
Meia de mim faz metade
De uma só, que faz questão
De viver na solidão,
Por mais que vos desagrade
Esta peculiaridade
Que julgais provocação,
Quando é somente a assumpção
Desta minha identidade.
*
Maria João Brito de Sousa – 20.11.2018 – 11.11h
Imagem retirada daqui