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http://asmontanhasqueosratosvaoparindo.blogs.sapo.pt

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EIS AS MONTANHAS QUE OS RATOS VÃO PARINDO

por muito pequenos que pareçam ser... NOTA - ESTE BLOG JAMAIS SERVIRÁ CAFÉS! ACABO DE DESCOBRIR QUE OS DOWNLOADS SE PAGAM CAROS...

VEM, QUANDO EU ESTIVER DEITADA...

26.09.18 | Maria João Brito de Sousa

vem quando eu estiver na cama.jpg

 

VEM, QUANDO EU ESTIVER DEITADA...



(Décimas)

*



Morfeu, esse sedutor,

ao tomar-me nos seus braços

quase me fez em pedaços,

passou a ser um estupor

e, pior, muito pior,

aproveitou-me os cansaços

para, em vez de dar-me abraços,

lançar-me em fundo torpor

e pôr-me a gritar de dor

com tanto excesso de amassos...

*



Ah, não fosse eu gostar tanto

dos soninhos que me oferta,

passava a noite desperta,

pra quebrar este quebranto...

Mas tem Morfeu tal encanto

que sempre me leva à certa

pois, mal o soninho aperta,

fico rendida ao seu manto,

só acordo se me espanto

por ter feito a descoberta

*

 

 

De poder ser perigoso

dar-me assim, de mão-beijada,

completamente embalada

por um sono tão gostoso,

a quem não seja zeloso

com quem se deu confiada...

Mas, resistir acordada

ainda é mais doloroso,

portanto, Morfeu vaidoso,

vem... quando eu estiver deitada!

*

 

 

 

Maria João Brito de Sousa – 26.09.2018 – 12.00h





 

NEM FOLHA AMARELECIDA, NEM EU NELA ME ESPELHANDO...

25.09.18 | Maria João Brito de Sousa

NEM FOLHA AMARELECIDA.jpeg

 



NEM FOLHA AMARELECIDA, NEM EU NELA ME ESPELHANDO...



(Décimas)

*



Nem uma folha dourada

vem confirmar-me este Outono

muito mais quente que morno

na data mal programada

em que o Estio apaga o forno

e diz:- “Pró ano retorno,

que agora estou de abalada

na minha ardente jangada

que traz o sol por adorno...

Assim que a esquina contorno,

faço soprar a Nortada!”

*



Nem uma folha caída,

segundo fui reparando,

e ainda o calor negando

que está o Verão de partida...

Calo-me e fico rendida,

cá por dentro aproveitando

o atraso que vai somando

uns dias à minha vida...

Nem folha amarelecida,

Nem eu nela me espelhando!

*



Maria João Brito de Sousa . 25.09.2018 – 15.11h

 

MUROS POR TODA A PARTE

21.09.18 | Maria João Brito de Sousa

MUROS.jpg

 

MUROS POR TODA A PARTE

*



Não são paredes, são muros

dos de cimento de escória,

alguns marcados por furos

de balas sem tempo, ou história.

*



São muros, mas passam bem

por serem partes de casas

nas quais talvez more alguém,

alguém que também tem asas...

*



Por isso vamos passando

pelos muros das prisões

sem saber como, nem quando,

albergarão multidões...

*



Mais pressinto do que vejo

que há muros por toda a parte

e prossigo no cortejo

sem saber como avisar-te

*



Mas, mesmo que te avisasse,

que faria pra provar-te,

por mais alto que gritasse

Que há muros por toda a parte?



*





Maria João Brito de Sousa – 21.09.2018 – 14.52h

 

 

 

ESTRATÉGIAS & ESTRATAGEMAS

20.09.18 | Maria João Brito de Sousa

censura-mafalda.jpg

ESTRATÉGIAS

&

ESTRATAGEMAS

*

Trago comigo a vantagem

das ´fintas` ao estado novo;

vou escrevendo para o povo,

mas não perco a douta imagem

que me dará cobertura

no caso de a ditadura

apelar à espionagem

e, ao tentar fazer censura,

nada achar do que procura

nos meandros da linguagem.



*

Estratégias e estratagemas

do escritor de poesia

que só assim conseguia

dar à estampa os seus poemas

sem que a censura fascista

o colocasse na lista

dos que criavam problemas...

Não foi fácil ser-se artista

nesses tempos da conquista

da libertação dos temas

*



Se a censura farejava

algo que não lhe agradasse,

gerava-se um grande impasse

e o poema não ´passava`.

Quanto ao poeta, talvez

passasse um dia, ou um mês,

num espaço que o despojava

dos versos que já não fez...

Não ser traidor, nem burguês,

pra condená-lo, bastava.

*



Hoje a censura tem manhas

que nesse tempo não tinha,

mas o poeta ´adivinha`,

sente nas próprias entranhas

como é fácil silenciá-lo

e até mesmo aprisioná-lo

em novas teias, tão estranhas,

que o difícil é prová-lo,

portanto eu, que não me calo,

uso estratégias tamanhas.

*



Maria João Brito de Sousa – 20.09.2018 - 19.45h



 

 

ANEDOTA EM REDONDILHA MAIOR (ADAPTAÇÃO)

19.09.18 | Maria João Brito de Sousa

o pardalito eo motociclista.jpg

 

O PARDALITO E O MOTOCICLISTA

*

 

Certo dia, um pardalinho,

Ao passar por uma estrada,

Voou baixo, tão baixinho

Que levou uma ´panada`

 

De certo motociclista

Que, sem ter mau coração,

Fazia da estrada pista,

Mas logo meteu travão

 

Pr`acudir ao animal

Que estava em muito mau estado,

Jazendo sem dar sinal

De viver... ou estar finado.

 

O rapaz, com mil cuidados,

Levou o pardal pra casa,

Deu-lhe pão - feito em bocados-

E desinfetou-lhe a asa.

 

Demorava-se a acordar,

Por isso, amorosamente,

Na gaiola o foi deitar,

Tendo água e pão posto em frente.

 

Algum tempo se passou

Até que o pequeno ferido

Abrindo um olho avistou

O petisco oferecido,

 

Porém também viu estar preso

E ficou atrapalhado

Porque, muito embora ileso,

Sabia ter-se ´estampado`:

 

"Olá?! Grades, pão e água...

Que maldita sorte eu tenho,

Que dorida, imensa mágoa

Vem pesar-me como um lenho!

 

Grades, em torno de mim,

Desjejum de água com pão;

Vai ser bem triste o meu fim

Nesta cela de prisão,

 

Pois voei muito depressa

Na mira de um grão de alpista,

E - só me faltava essa! -,

Matei o motociclista!”

*

 

 

Maria João Brito de Sousa – 18.09.2018

TRÊS DÉCIMAS A UMA SEDE SEM PREÇO, NEM REMÉDIO

04.09.18 | Maria João Brito de Sousa

SEDE.jpg

 

TRÊS DÉCIMAS A UMA SEDE SEM PREÇO, NEM REMÉDIO

*

 

A sede que os homens sentem

da sede de terem sede,

não tem fim, ninguém a mede,

por muito que muitos tentem

medi-la enquanto desmentem

a grandeza que os impede

de a prenderem numa rede;

por mais invenções que inventem,

por mais malhas que os sustentem,

nunca essa sede o concede!

*

 

Outras sedes, no entanto,

poderão ser governáveis

e até quantificáveis

sem causar-nos grande espanto;

umas, nem terão encanto,

outras, sendo cobiçáveis

ainda que vulneráveis,

ficam quedas no seu canto,

pra agarrá-las basta um manto

de ondas, das sintonizáveis,

*

 

Mas para a esta matar,

se sede de sede for,

não há melhor, nem pior,

nunca nada a fez parar,

não se pode avaliar

e nem mesmo um ditador

consegue tê-la ao dispor

para a poder dominar,

nem prá vender ou comprar

por nenhum, nenhum valor!

*

 

 

Maria João Brito de Sousa - 04.09.2018 -22.04h