GLOSANDO UM POEMA EM SEXTILHAS DA AUTORIA DE ALICE MENDES
QUANDO EU MORRER...
de
Alice Mendes
Se eu pudesse escolher
Um dia para morrer
Queria-o solarengo
Assim como uma aguarela
Arco-íris em janela
De outra forma, não entendo.
Quando esse dia chegar,
Sei que não vou cá ficar
Quero ir bem esticadinha…
Bastam as rugas da vida
Quanto mais inda esta lida
De não ir bem bonitinha.
Para mim, chega uma flor
Que me acompanhe onde for
E perfume o meu caminho…
Sei que não vou andando
Ganhei asas, vou voando
Como um lindo passarinho.
Depois, lá onde eu estiver,
A minh’alma de mulher
Continuará a sorrir.
Irá olhar para o mundo
E num cantinho bem fundo
Verá outros a partir.
É sina que a todos cabe
Mas, o qu’inda ninguém sabe
É o que depois se passa…
Com os pés juntos iremos
Aqui, jamais os movemos
E lá? Será que tem graça?
Alice Mendes
25.10.2016
HISTÓRIAS DAS MIL E UMA NOITES
(Para "entreter" um pouco a dona Morte.)
"Se eu pudesse escolher,"
Quereria não morrer
Dentro dos próximos anos,
Porém, o que há de mais certo
É, vendo a morte por perto,
"Levá-la à certa", entre enganos...
Quando esse dia chegar,
Não mais podendo enganar
A velha da foice negra,
Que remédio posso ter,
Se não fazê-la entender
Que quero fugir à regra?
"Para mim, chega uma flor",
Mas ela sabe de cor
Estes "truques" dos mortais,
Vai fazer-me ouvidos moucos
E eu, que vou morrendo aos poucos,
Já gastei truques demais...
"Depois, lá onde eu estiver",
Faz de mim quanto quiser...
No que toca aos meus poemas,
Não lhes vá tocar, porém!
Mate, se isso lhe convém,
Não me arranje é mais problemas!
"É sina que a todos cabe";
Não há quem nunca se acabe
Nesta existência pautada
Por tristezas, alegrias,
Convicções e nostalgias
E uma ou outra gargalhada...
Maria João Brito de Sousa - 25.10.2016 - 14.25h