VERÃO
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O verão, estação mais quente,
Despediu a primavera.
Já se estava dele à espera
Eis que surge, sorridente!
Ninguém fica indiferente
Aos campos, praias e mar
Com espaços a abarrotar,
De carros e de pessoas!
O verão de coisas boas
Que o outono há de levar...
*
Joaquim Sustelo
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Décimas Glosadas
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I
Calor? Não me mete medo,
Nem me faz ficar doente
Como o frio que, de repente,
Desde manhãzinha cedo
Me enregela - que degredo... -
Inda além do Sol poente!
Prefiro este Sol ardente,
Disso não farei segredo
Se invoco - porque antecedo... -
"O Verão, estação mais quente"!
*
II
Menos dor, mais liberdade,
Menos roupa, mais quimera...
Ai, afinal, quem me dera
Que, tal qual minha vontade,
Eu, com mais mobilidade,
Corresse que nem pantera
Quando um pé por outro espera
Uma quase eternidade...
O Verão porém, na verdade,
"Despediu a Primavera"
*
III
Veio estrear-se em beleza
Sob um sol que é rubra esfera
E todo em brilhos se esmera
Neste céu côr de turquesa,
Tal qual chama muito acesa
Que, num crescendo, pondera
Gerar seca bem severa,
Tal a sua natureza...
Mas não digam que é surpresa,
"Já se estava dele à espera"
*
IV
Não parece, por enquanto,
Mas quem seja previdente
Sabe que um Verão muito quente
Pode perder o encanto
E acender-se em chamas, tanto,
Que uma floresta inocente
Arda e fique incandescente
Perdendo o seu verde manto
Neste V`rão que, no entanto,
"Eis que surge sorridente!"
*
V
Sempre que arda uma floresta,
Perde toda, toda a gente...
Numa vila, mesmo em frente,
- lugar de gente modesta... -
Há sempre alguém que se apresta
A apagar a chama ardente
Pois, tanta vez impotente
Face a essa imensa besta,
Vendo o próprio inferno em festa,
"Ninguém fica indiferente",
*
VI
Por outro lado, consola
Ver o V`rão a despontar,
Com crianças a brincar
- porque já não têm escola...-,
Umas a jogar à bola,
Outras na praia a nadar
Sem terem de carregar
A sempiterna sacola
Pois não vão tinta, nem cola,
"Aos campos, praias e mar"...
*
VII
Faz-se a festa no campismo,
Pois sempre há-de haver lugar
Pr`a se poder acampar
- outra forma de turismo,
bem contrária ao comodismo
de nalgum hotel ficar... -
Numa mata, ou junto ao mar,
Conforme o dite o lirismo
Contra o duro fatalismo
"De espaços a abarrotar"...
*
VIII
Pois há quem nunca desista,
Nem pare de tecer loas,
Não a barcos e canoas,
Mas ao "espírito campista"
E ao campismo vanguardista
Que - juram! - são coisas boas,
Mas que - sei que me perdoas
Pois não sou malabarista... -
Mais parece imensa pista
"De carros e de pessoas!"
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IX
Na minha casa - meu espaço... -,
Por mais que tu te condoas
Podem-me ir faltando c`roas*,
Ir-me sobrando o cansaço,
Mas é daqui que eu te traço
Poemas - nem sempre loas... -
Pra ti, pra mais mil pessoas
Que cuidem disto que faço
E encontrem, no seu regaço,
"O Verão de coisas boas"
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X
Tudo, porém, tem seu fim
Neste mundo milenar
Que é mera esfera a girar
Sem esperar por ti, por mim,
Ou por quem nem pense assim...
Amigo, é de aproveitar
Pois não veio pr`a ficar
E o V`rão, neste jardim,
É tal qual como um jasmim
"Que o Outono há-de levar..."
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Maria João Brito de Sousa
21.06.2016 - 16.59h
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In Antologia Horizontes da Poesia VIII, Euedito, 2016
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* C`roas - Dinheiro, vil metal