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MOTE
FIZ UMA COVA NA AREIA
PARA AFOGAR MINHA MÁGOA
ENTROU NELA O MAR TODO
NÃO ENCHEU A COVA D’ÁGUA.
Bento Tiago Laneiro
De Vila Nova de S. Bento,
Amadora, 2016/ 08/ 11
GLOSAS
"Fiz uma cova na areia"
Quando era pequenininha
E senti-me uma rainha
Quando, em vindo a maré cheia,
Nadei nela, qual sereia,
Porque a cova era só minha!
Do que eu qu`ria, era o que eu tinha
E, quando nada se odeia,
Por pouca coisa se anseia,
Tudo e nada se adivinha...
"Para afogar minha mágoa",
Agora que envelheci,
Escrevo, à pressa, por aqui,
Pego em minha gata, afago-a,
Vou ao café... bebo água,
Releio o que já escrevi,
Re-reviso o que já li,
Engulo uma sopa - ou trago-a... -
Porque, à minha escrita, estrago-a
A correr daqui pr`ali...
"Entrou nela o mar todo"
E eu não posso devolvê-lo,
Pois mal consigo dizê-lo
Sem sentir que raso o lodo
Em que, já cansada, rodo,
Rodo sobre o cotovelo,
Não conseguindo sustê-lo,
Deste modo ou de outro modo...
Tenho sono e, se incomodo,
Peço desculpa por tê-lo...
"Não encheu a cova d`água",
Encheu-me a mim, toda inteira
E devo ter feito asneira
Pois não sinto dor, nem mágoa,
Essa que não trago - ou trago-a? -...
Tudo o que sinto é canseira
E pareço estar à beira
De uma incandescente frágua..
Não podendo mais, sufrago-a;
Levanto, branca, a bandeira!
Maria João Brito de Sousa - Oeiras, 13.08.2016